Quadrinhos

HQ confirma que Qui-Gon teria salvado Anakin


Galera, eu sei que deve ser cansativo voltarmos aqui, sentar e falarmos de novo sobre novos pontos de vista sobre a profecia, sobre o escolhido e tudo mais. Porém, com essas HQ’s novas que estão surgindo, será feito o que se espera quando algum material extra do filme sai e é considerado canon, como é o caso destes novos prazeres da leitura. Venham comigo.

Demorou algum tempo, mas a HQ de Star Wars – Age of Republic: Qui-Gon Jinn confirma que o mestre de Obi-Wan teria salvado Anakin. A HQ explica que apenas Qui-Gon aprendeu a verdade sobre o Lado Negro que Obi-Wan, Mastre Windu e até mesmo Yoda nunca haviam percebido. De uma forma mais clara, ele ainda é responsável por correr o risco de recrutar e treinar Anakin Skywalker. Colocando-o em seu caminho para se tornar… bem, se tornar Darth Vader. Essa era a visão que muitos debatiam sem muitas chances de ver por outro ângulo. A visão dos famosos “what if” que temos e que outras franquias como Marvel tanto fazem. Mas no caso de Star Wars, essas novas HQ’s não produzem algo do tipo, mas fazem com que enxerguemos o que o Jedi anti-dogmático Qui Gon enxergou em Anakin.

Em uma nova revista em quadrinhos, com pretensões que poderiam se tornar um belo livro também, nos é revelado a crise de fé de Qui-Gon muito antes do Episódio I. As dúvidas e verdadeiras intenções do Mestre Jedi que entenderemos melhor o quadro que conhecemos. Qui-Gon não deixou de notar que o Lado Negro estava fervendo dentro do jovem Skywalker: ele acreditava que a escuridão era exatamente o que era necessário para trazer equilíbrio à Força. Mostrando de uma vez por todas que Anakin poderia ter trazido a paz para a galáxia. Isso se Qui-Gon Jinn o tivesse treinado.

Se você é fiel em acreditar nas explicações que montamos através da Força explicada pelos Jedi, você já ouviu isso: lado da luz é bom, lado sombrio é mal e terrível. Contudo, apesar de toda a conversa sobre equilíbrio, a Ordem Jedi dos filmes havia se tornado rígida em seu preconceito. E nas páginas de Age of Republic: Qui-Gon Jinn, a crise de fé dos Jedi vem muito antes de A Ameaça Fantasma e finalmente nos é mostrada. Sem exagerar na necessidade de encaixe de histórias em gaps, que é tão comum nos materiais multimidiáticos da saga, Qui-Gon parece perceber o que nenhum outro membro do Conselho Jedi estaria percebendo. Que eles perderam a visão. E para dar a volta, ele pula cegamente no hiperespaço com apenas a Força para guiá-lo e aceita a lição que tem para ensinar.

Em um mundo alienígena que se une à vida e ao crescimento “sombrio”, Qui-Gon comunga com a Força. Sentindo tanto a luz como a escuridão para equilibrá-la, ele desperta de sua visão para ver que a escuridão foi repelida. A luz triunfou sobre ela, retornando o verdadeiro “equilíbrio, mas através de um meio além do conflito”. A lição continua, e Qui-Gon retorna à Ordem mantendo esse conhecimento para si mesmo. Os Jedi acreditam que o Lado Negro seja resistido por qualquer meio necessário… No entanto, somente em face da escuridão a luz pode restaurar o equilíbrio. Um princípio que claramente ocupa a mente de Qui-Gon ao descobrir um pequeno escravo num planeta chamado Tatooine.

Nem deve ser tão exagero que esta experiência deva forçar cada fã de Star Wars a recontextualizar cada decisão que Qui-Gon faz quando o acompanhamos em suas decisões no Episódio 1 (deixou uma marca, o que significa que seu personagem estava certamente fazendo o mesmo ). A lição ensinada pela força era clara. Então quando ele, de todos os possíveis Jedi, passou por um garoto que havia sido concebido naturalmente, Qui-Gon sabia que não era por acaso. Como ele diz ao Conselho Jedi no Episódio 1: “foram os desígnios da força, não tenho dúvidas.”

Que é onde o filme das prequels deve agora ser reavaliado. Porque quando Qui-Gon confirma que acredita que Anakin Skywalker é o profetizado para “trazer equilíbrio à Força”, ele e o Conselho Jedi estão imaginando duas vitórias diferentes. Para eles, isso significa que a Força produziu um campeão para vencer a escuridão, deixando apenas a luz. Enquanto o encontro de Qui-Gon com a Força mostrou que “equilíbrio” é a aceitação das trevas, então a luz pode superá-lo. O Conselho sente o potencial do Lado Negro em Anakin e vê isso como uma ameaça. Qui-Gon teria sentido o mesmo, mas entender o potencial de Anakin para a escuridão era o ponto inteiro da lição da Força (e por extensão, a profecia).

Se Qui-Gon tivesse vivido para treinar o próprio Anakin, essa lição certamente teria se provado verdadeira. Porque a essa altura Qui-Gon chegou a perceber o que Anakin eventualmente faria: que os Jedi tivessem se perdido em sua arrogância.

Uma das verdades mais desagradáveis a serem aceitas quando se entra na Ordem Jedi é que, quando o público as conhece, seja na trilogia clássica ou nas prequels, em especial em A Ameaça Fantasma, elas são pintadas como cavaleiros. Espadachins cavalheirescos que reforçam a vontade da República em prol de uma paz que eles acreditam que tenha uma forma única. Um ato nobre, claro, mas de maneira alguma o que os monges Jedi pretendiam ser, afinal. E em Age of Republic: Qui Gon Jinn, o Jedi mais consciente da galáxia expressa essa preocupação para o Mestre Yoda (que, apesar de sua sabedoria, não considera isso). Depois que um dignitário resgatado se pergunta por que Qui-Gon não deixou sua espada falar, ele percebe até que ponto a Ordem Jedi se desviou de sua missão pretendida.

Os Jedi não servem mais a Força, mas o governo, usando esse poder para ajudá-los. E para todas as garantias do mestre Yoda, ainda é difícil para aqueles que estão fora deste contexto compreenderem a verdade das ações dos Jedi. Qui-Gon argumenta que “nossas ações são um reflexo do nosso propósito”. Os anos que foram cumpridos fizeram os Jedi pensarem como executores, até mesmo Yoda.  Com toda sua sabedoria não pôde ver o perigo que Qui-Gon os revelou com antecedência: que “a violência semeia as sementes do Lado Negro. Sem controle, os Jedi poderiam se tornar aquilo contra o qual lutamos. “

Estando cegos para esta realidade por um bom tempo, foi possível para os Jedi marchar para o escritório do chefe da República democraticamente designado para matá-lo. E assim usar uma frase de efeito de “derrotar a escuridão” – dando até mesmo de bandeja um conceito errado para Anakin pensar que do seu ponto de vista “são os Jedi que estão perdidos”.

A história em quadrinhos deixa claro que Qui-Gon manteve a sua nova compreensão da Força e do Lado Negro para si mesmo. Levantando o fato de que os Jedi devem permanecer mais flexíveis e abertos a crenças mutantes do que seus antigos inimigos diretos, os Sith. Mas depois de encontrar resistência no discurso do próprio Mestre Jedi, Quin Gon notou um conceito absolutista a respeito do Lado Negro. Apenas no caso de alguém precisar de mais provas de que ele era o único Jedi que poderia ter entendido como treinar e educar Anakin e as verdades sobre seu poder, suas margens de erros e impulsos. E, não esqueçamos, que esse treino poderia ter tido a verdadeira utilidade de cumprir seu destino como o único a restaurar o equilíbrio da galáxia “através de um meio além do conflito”.

Pelo menos, presumindo que a Força realmente o criou, imbuísse-o com luz e escuridão, e o jogasse no colo do único Mestre Jedi que poderia ajudá-lo a restaurar verdadeiramente o equilíbrio. Sabendo que sua escuridão revelada naquela entrevista no conselho deveria ser entendida, não declarada como ruim, errada, defeituosa, e ser um Jedi ignorado até que a escuridão o consumiu. Agora, a única questão a considerar é quanto Darth Sidious pode ter sentido a vontade da Força, enviando seu aprendiz Darth Maul para matar Qui-Gon antes que ele pudesse servir ao seu propósito. E convenhamos, Sidious, o melhor estrategista de toda a saga, sabia mexer suas pedras no jogo.

A morte de Qui-Gon Jinn foi sempre dolorosa para os fãs, mas será duplamente trágica, agora que os fãs de Star Wars sabem que as Forças esperam que Anakin Skywalker morra junto com ele. E para isso, os fãs de quadrinhos devem à escritora Jody Houser e o artista Cory Smith.

Atenciosamente,

Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema 
Especialista em Comunicação 
Graduado em Audiovisual e Multimídia”O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller

Texto adaptado de: ScreenRant

Vebis Jr

Professor/produtor/pesquisador/podcaster em Cinema. Velho anarco punk rocker! https://twitter.com/Vebisjunior