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O Fechamento de Um Ciclo e seus Aprendizados

E lá se vai mais um ano recheado de provações que não apenas nossa equipe passou, mas acreditamos que todos os nossos leitores também. Nós, fãs de Star Wars, saímos um pouco mais leves e aliviados. The Mandalorian foi um verdadeiro analgésico para as dores que esse pesado ano nos trouxe. Esse texto tem como proposta, uma reflexão que poucas vezes fazemos e obviamente ele vai atingir uma parcela pequena de nossos leitores que tem um compromisso com a ética, o perdão e a compreensão.

Desde que os criadores de conteúdo da saga passaram a se conversar mais, notamos alguns pontos que se repetem nos comportamentos agressivos da fanbase. Chris Taylor em seu livro Como Star Wars Conquistou o Mundo diz sabiamente que, para amar Star Wars, é necessário odiar Star Wars. Embora em sua pesquisa ele notou o quanto a cultura cinematográfica faz parte do dia a dia das pessoas e isso dá uma sensação de que se consumimos, somos donos e, por sermos donos, poderíamos definir o futuro da franquia, nossa realidade de consumidor e de espectador nos renega a possibilidade de interferência.

O resultado disso: o fã descontente dissemina sua insatisfação para os grupos, páginas, perfis que cultuam a saga.

Para muita gente que reclama da saga nos espaços, a reclamação vem com o espaço para debate, para troca e assim conhecer pontos de vista diferentes sobre um determinado produto (filme, animação, livro ou Hq) e isso ajuda na tentativa de diálogo com a obra. Para outros, o caminho é uma reprise de um mundo que tem se desenhado onde muitos se consideram autossuficientes, com absolutismos nas opiniões e nem sequer uma mera margem da dúvida que caiba a interação com o próximo.

Quando criamos a Sociedade Jedi em 2015, o principal objetivo era ser mais um espaço para debates e trocas, mas nos vimos num mundo que se desenhou onde muitos queriam impor sua opinião guela abaixo de outros leitores. Chris Dias em seu sábio texto Uma Tela, Dois Filmes nos mostra como no mundo atual as pessoas estão escolhendo no que querem acreditar, e assim se desenha o que é mais conveniente para sua vida. Situações como essa abriu um portal de criaturas que duvidem da ciência e, desse modo, o ensino e estudos começou a ser desafiado da pior maneira: se cada um escolhe para si o que quer acreditar, os dados empíricos pesquisados começaram a ser ignorados.

Com isso, a prática da compreensão por dados e até mesmo aquela prática familiar que nossas vovózinhas nos ensinavam onde o perdão facilitaria muito nossa vida também começou a ser afetado. Mas o que tem a ver dados e perdão da vovoózinha com Star Wars?

Meus amigos, isso tem a ver com a maturidade.

Em especial no campo da nossa cultura pela saga, estamos na transição de aceitar que a trilogia sequel foi um escorrego.

Um escorrego letal que mostrou fissura nas histórias contadas antes por George Lucas (que foi muito hostilizado) e hoje temos a figura vilã de todo fanboy: a da produtora executiva Kathleen Kennedy. Para muitos leigos de cinema, todo seu curriculum e filmes de sua carreira são automaticamente esquecidos pela necessidade de se pendurar alguém na forca, de um judas para ser malhado, de um bode expiatório de todos erros constantes.

Mas temos sorte de que qualquer um que saiba que o cinema é feito por “tentativas – erros – acertos” compreendeu que nossa maturidade é cobrada para se entender nossa jornada COM os heróis: Um escorrego como a sequels (que trouxe mais uma geração de fãs para a saga) fez com que o diálogo do topo das decisões entre CEO e a presidente da Lucasfilm, entendessem a necessidade de se renovar e se ater aos detalhes do planejamento.

É por conta de planejamento, de um simples fato de se criarem de antemão uma história e depois rodá-la inteira nos trás a sensação de firmeza de decisões, de pessoas certas em núcleos narrativos. É óbvio que foi uma delícia propagar, gargalhar e se divertir com memes que apontavam Jon Favreau e Dave Filoni como os salvadores de nossa historinha da infância continuar a fazer efeito. Mas isso ocorreu porque precisamos escorregar primeiro para depois acertar.

E o acerto veio da melhor forma: 11 séries e 2 longas para a gente poder desfrutar daqui até 2025.

“Sim, fracasso acima de tudo. O maior professor, o fracasso é. Luke, nós somos o que eles crescem além. Esse é o verdadeiro fardo de todos os mestres”.

Mestre Yoda

E isso foi bem difícil de se assimilar. Crescer e chamar na chincha o próximo obstáculo, toda semana era algum conteúdo que servia quase de alimento dos praticantes do ódio. Muitos sites, canais apostavam suas fichas na prática do ódio. Aqui não compactuamos com isso. A saga foi responsável por criar muitas amizades. Amizades que dividiam a mesma fileira de poltronas para suspirar e chorar com o título da saga afundando no espaço e o prólogo em formato de pergaminho sumindo no espaço.

O que nos legitima sempre foi e sempre será a amizade.

E que nesse ano, saímos da sala escura para esperar a saída do episódio às 5 da manhã para assistirmos e depois irmos para o trabalho ou dormir mais um pouco para encarar o home office. Um ano atípico com um dos acertos: a missão que precisava ser cumprida: a entrega do enjeitado nas mãos de um mestre jedi.

E nós ganhamos esse presente: foi nas mãos do mestre jedi que mais marcou nossas vidas: aquele que foi ouvir do mais sábio que o fracasso é o maior professor.

E que o ano de 2021 seja aquele que nos traga a humildade de entendermos que, no escorrego que damos, abrem-se muitas portas para se programar melhor como trabalharemos para nosso sucesso.

Um feliz ano de 2021, que nossas perdas de 2020 nos tornem fortes o suficiente para assumirmos que nunca iremos parar de aprender. 

E se abram para que a Força nos guie.

Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema
Especialista em Comunicação
Graduado em Audiovisual e Multimídia
“O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller

Revisado por: Alexandre Agassi
Jornalista, cinéfilo e apaixonado por Star Wars

Vebis Jr

Professor/produtor/pesquisador/podcaster em Cinema. Velho anarco punk rocker! https://twitter.com/Vebisjunior