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Dossiê | Reylo: De inimigos a amantes? – Parte Final: Episódio IX?

Esta é uma série de posts que mostra se Reylo, uma teoria que acredita que Rey e Kylo serão o casal da trilogia sequel, é possível pela perspectiva de uma das explicações mais comuns: De que eles seguem o tropo de inimigos que se tornam amantes. Como toda teoria (ou, neste caso, um ponto de vista sobre uma teoria já existente), leve isso como uma opinião baseada em como esse tropo funciona, nos filmes e livros em geral e no cânon, e antes de comentar sobre, defendendo ou atacando este ponto de vista, leia toda a matéria (e se possível, todo o dossiê) para não expressar opiniões equivocadas ou sem fundamento.


Na segunda parte do dossiê, descobrimos que mesmo Rian Johnson usando partes do tropo “de inimigos a aliados” em Os Últimos Jedi, o tropo não se completou, pelo contrário, foi subvertido a ponto de que Rey e Kylo continuassem inimigos. Mesmo assim, muitos ainda veem a possibilidade tanto de uma redenção de Kylo Ren quanto de um romance entre ele e Rey, afinal, a trilogia ainda não acabou. Será que ainda há esperança para essa teoria unicamente pelo ponto de vista do tropo “de inimigos a amantes”? É o que devemos descobrir considerando algumas coisas:

Em busca de um vilão

No final de Os Últimos Jedi e assim no começo do Episódio IX, Kylo será oficialmente o “Chefão.” Não há outro personagem que possa tomar o lugar de Kylo de uma forma que produzisse um nível interessante de conflito físico e emocional para o filme. Mesmo que Rey e Kylo parassem de brigar não haveria um vilão maior para que eles enfrentassem. E antes que fale sobre o General Hux, já vimos Kylo dominar Hux pelo simples motivo de que ele sabe que a unica chance de Hux derrotá-lo seria se de alguma forma Kylo estivesse incapacitado de usar a Força. Qualquer cena de luta de Rey e Kylo contra Hux – ou até mesmo contra Hux e seus soldados, como na cena em Os Últimos Jedi quando eles lutam contra os guardas pretorianos – estaria acabada em segundos. E mais, Rey nunca conheceu Hux ou Phasma ou nenhum outro oficial da Primeira Ordem, então não haveria nenhum conflito emocional envolvido caso ela lutasse contra algum deles.

E introduzir um novo vilão a essa altura do campeonato tem seus próprios problemas. Trazer um novo vilão, um que ainda não fosse conhecido nos filmes anteriores, seria incrivelmente forçado, sem uma introdução narrativa apropriada, levando a um conflito emocional realmente baixo entre os personagens. Isso também se aplica aos Cavaleiros de Ren. Fomos introduzidos a eles conceitualmente durante o forceback de Rey, mas ainda não temos uma ideia real de quem eles são. Rey ainda deve conhecer os Cavaleiros de Ren, então qualquer conflito entre eles seria puramente físico, sem um forte componente emocional. Kylo também é o Mestre dos Cavaleiros de Ren, o que implica fortemente em dizer que ele é o mais poderoso dentre eles. A falta de introdução e a inferioridade implícita deles os fazem bons candidatos para capangas, mas realmente péssimos candidatos para vilões. De todos os vilões que foram introduzidos na Trilogia Sequel, não há ninguém que possa tomar o lugar de Kylo e muito menos alguém que possa ser uma verdadeira ameaça que tenha um bom nível de conflito emocional com Rey. Então, se Kylo e Rey pararem de brigar, a história acaba, pois aí o maior conflito da trilogia acabaria.

A falta de uma ameaça maior significa que, é impossível que Kylo seja redimido antes do clímax do filme, se houver redenção. O clímax, por definição, é onde o grande conflito é resolvido, e a redenção de Kylo terminaria o conflito. Mesmo que Reylo seja o que J.J Abrams tenha em mente (o que, de acordo com a primeira parte do dossiê, há controvérsias), após o momento do clímax há simplesmente pouco espaço narrativo para efetivamente desenvolver o relacionamento dele e de Rey ao ponto de ser considerado – pelos padrões de Hollywood, que ostensivamente refletem os padrões da sociedade ideal – um interesse amoroso “digno” da heroína. Somente pense nas novelas onde os vilões se redimiram e ficaram com a protagonista; Agora, pense em quanto tempo teve que ser usado para tanto redimir o vilão quanto construir uma dinâmica positiva entre ele e a heroína. Agora pense em quanto tempo restaria para fazer isso com o redimido Ben após o clímax.

O problema do tempo

Aumentar muito o tempo do filme após o conflito ser resolvido traz um risco de críticas de que o filme é mais longo do que deveria, o que aconteceu com O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei após seu lançamento. Filmes episódicos de Star Wars tipicamente terminam dez minutos depois do clímax. Isso é literalmente muito menos do que o necessário para que dois personagens que estavam lutando pelo destino da galáxia se transformarem em um casal romântico que vai viver feliz pra sempre e esperar que o público em geral acredite nisso.

Lembre-se, a razão de Rey ser inimiga de Kylo no final de Os Últimos Jedi é que ele queria matar seus amigos da Resistência, e não só isso, queria que ela se juntasse a ele enquanto eles morriam. Ela não vai correr para seus braços enquanto ele ainda estiver tentando matar seus amigos. Então não pode haver romance antes da redenção de Kylo e Kylo não pode ser redimido antes do clímax porque não há ninguém que possa o substituir no lugar de Chefão. E mesmo que ele seja redimido no clímax, não há tempo para desenvolver o relacionamento deles como algo romântico nem vender essa ideia para as pessoas de fora do fandom. Isso seria uma bagunça narrativa. Por outro lado, alongar o filme após o clímax para estabelecer Rey e Kylo como um casal e trabalhar seus problemas interpessoais iria destruir o ritmo do filme por ser necessário basicamente um história inteira para ser contada separadamente sendo que todas as outras narrativas já teriam terminado.

Se, em outra hipótese, o Episódio IX apresentasse Rey e Kylo como um casal imediatamente após a redenção de Kylo no clímax do filme, teria outro problema. Daria a impressão de que o vilão “ganhou.” “Ganhar a garota” e “viver feliz para sempre” são tropos clássicos e recompensas tipicamente dadas a heróis vitoriosos, não a vilões derrotados (e nem vamos entrar no mérito da possível conotação machista desses tropos, pois não é isso que está em questão). Vilões que são redimidos mais cedo geralmente têm finais felizes porque estes tiveram tempo suficiente na história para se provarem heróis e ganhar o perdão do público (Ex.: Príncipe Zuko em Avatar: A Lenda de Aang).

Geralmente, vilões que são redimidos tarde na história tem finais trágicos (Ex.: Darth Vader, o Fantasma da Ópera). Isso é porque é mais fácil para um personagem ganhar o perdão do público em um curto período de tempo se o público sentir pena dele e se sentir que ele foi propriamente punido pelos seus crimes. Dar ao vilão tudo o que ele quer imediatamente após sua redenção dá ao público um sentimento de que a justiça não foi feita, e assim, é mais difícil perdoar. Isso acontece até com os vilões extremamente simpáticos. E é por isso que o Fantasma da Ópera não termina com ele se casando com Christine.

Manter Kylo como o vilão principal do Episódio IX permite ao filme ter um nível de conflito profundamente intenso e pessoal entre protagonista e antagonista. E, se estiver nos planos de J.J que Rey termine com alguém, um relacionamento com um personagem heroico permitiria que o romance se desenvolvesse naturalmente a partir de um relacionamento saudável enquanto se preparam para derrotar a Primeira Ordem, assim, se resolvendo ao mesmo tempo que as outras histórias sem ser forçado. O filme então teria um ritmo convencional, sem necessidade de se alongar após o clímax. Dar a Kylo um final trágico ou agridoce após sua redenção dá ao público que não tem acesso ao universo expandido a oportunidade de simpatizar com ele e ainda perdoá-lo mais facilmente do que só dá-lo um final feliz sem que ele passe a maior parte do tempo no lado luminoso para mostrar ao público em geral que ele “mereceu”.

Independente da sua opinião sobre J.J Abrams como um cineasta, as “soluções” acima para que um romance entre Rey e Kylo acontecesse não são comuns em seus filmes, que geralmente têm vilões que não são facilmente influenciáveis e que têm níveis interessantes de conflito emocional entre ele e o protagonista. Seus filmes tendem a ter um tempo de duração médio e um ritmo convencional, e, diferentemente de suas séries, eles tendem a ter finais convencionais e esperados onde os mocinhos vencem e os vilões têm suas penas decretadas. Então, um romance entre Rey e Kylo não vai acontecer no Episódio IX a não ser que J.J. Abrams tome decisões que, estritamente por uma perspectiva cinemática, seriam objetivamente ruins. Não há histórico dele tomando decisões similares em seus filmes anteriores, então é altamente improvável que ele queira fazer isso agora.

Fonte: SWSC