Dossiê | Rey Skywalker em Os Últimos Jedi (Parte II) – Análise Temática
Este é o segundo post do nosso dossiê. Como toda teoria, leve isso como especulação, e antes de comentar sobre, defendendo ou atacando esta teoria, leia toda a matéria (e se possível, todo o dossiê) para não expressar opiniões equivocadas ou sem fundamento. Obviamente este post contém spoilers de Os Últimos Jedi, incluindo trechos de falas dos personagens e informações de livros de apoio como o The Art of The Last Jedi. Também contém spoilers do livro Legado de Sangue e do livro The Legends Of Luke Skywalker, ainda não publicado no Brasil.
Agora vamos explorar como os temas do filme e da franquia como um todo desmentem a ideia de que Rey é só uma “ninguém” pega no meio do drama da família Skywalker. Acreditamos que, fazendo Rey aparentemente vinda de uma família desconhecida, o filme está na verdade criando a necessidade de incluí-la em alguma família para que tematicamente faça sentido. Vamos provar esta tese analisando os temas principais da saga Skywalker em comparação com o filme Os Últimos Jedi.
Tema I: Família
Família como protagonista
“Você tem muito do coração do seu pai, jovem Solo.” – Snoke
Em uma saga tão rica como Star Wars, fica fácil focar em um só filme ou trilogia, se esquecendo da conexão que deve ter em todas as três trilogias dessa saga. Se olharmos a história geral da saga até agora, é claro que a espinha dorsal narrativa dessa saga de nove partes (até que talvez se anunciem outras), é a jornada de três gerações sucessivas da família Skywalker. Relações familiares entre os Skywalkers – especialmente conflitos entre gerações – são os principais fatores motivadores do plot, e são a chave para entender momentos cruciais. A ida de Anakin ao Lado Sombrio começa com a morte de sua mãe, e é cimentado pelo desejo de proteger sua mulher e os bebês que ela estava esperando. O grande triunfo de Luke – sua decisão de não matar seu próprio pai, mesmo que isso custasse a sua própria vida – é estimulada pelo seu desejo de redimi-lo. E os arcos de Han, Leia e Luke na trilogia sequel são definidos pelos laços com Ben, sendo respectivamente filho e sobrinho. Então, podemos dizer que o protagonista desta tríade de trilogias é a família Skywalker, tanto que é chamado de Saga Skywalker pelo site oficial de Star Wars.
Então, o que acontece quando, no penúltimo capítulo da história, a única pessoa que resta para carregar esse legado têm desfeito quase que totalmente tudo o que as duas gerações anteriores de sua família tinham construído? Mesmo que Kylo verdadeiramente se redima no final, isso transforma o arco inteiro dos 9 filmes em algo fútil: Anakin causa destruição, Luke conserta. Kylo causa destruição, e então se conserta (ou pelo menos para de destruir). Terminamos justamente onde começamos, e a única conclusão que seria feita era de que a galáxia seria a mesma independente de os Skywalkers existirem ou não, o que questionaria até mesmo a sabedoria da Força. Pra quê ela gerou Anakin se nada efetivamente mudou no final?
Para que nosso “protagonista” ter algum desenvolvimento e significância, temos que terminar a história com o senso de que não só conseguiram alguma coisa, mas que vão continuar a conseguir coisas maiores no futuro. Se Kylo é o último Skywalker no final da trilogia sequel, a saga vai terminar tanto com o público parabenizando a aniquilação da família na qual nos importamos por 40 anos e 9 filmes, ou vai terminar com o grande “triunfo” do seu último descendente finalmente decidindo não ser mais tão vilão (e antes que você diga, “mas ele vai fazer muitas coisas boas no futuro!” tire um momento para imaginar como seria se a trilogia original tivesse terminado com Luke e Leia mortos e um Vader “redimido” como o único Skywalker vivo, e pense o quão estranho você se sentiria no final do filme). Mas se, como Yoda disse, “há outro” Skywalker que é demonstradamente bom e valente, que pode corrigir os erros do passado como também construir um caminho de bondade para o futuro, a narrativa se abre para um sentimento de crescimento potencial e verdadeiro.
Mesmo no final, tudo o que a família Skywalker tenha feito seja cancelar a si mesmos com fases alternadas de triunfo e destruição, suas jornadas os levaram a algo ultimamente positivo e significante – o nascimento de Rey, e tudo o que ela vai construir.
Coesão temática para a franquia
Um dos mais importantes temas em Star Wars são os relacionamentos destruídos entre pais e filhos e as tentativas dos personagens de reconstruí-los. Podemos ver a quebra de relacionamento entre Anakin e sua mãe em A Ameaça Fantasma e suas tentativas de restaurá-lo em Ataque dos Clones. Mustos dos problemas de Anakin em A Vingança dos Sith vêm da perda de sua mãe, e o filme termina com a quebra da família outra vez com Luke e Leia sendo escondidos do seu pai. Em Rogue One vemos Jyn tentando reconectar com seu pai ausente. Em Uma Nova Esperança, Luke decide se tornar Jedi mais numa tentativa de estar perto do pai que ele nunca conheceu. Em O Império Contra-Ataca vemos Vader tentando restaurar seu relacionamento com seu filho. Em O Retorno de Jedi vemos Luke tentando restaurar seu relacionamento com seu pai. Em O Despertar da Força vemos Han tentando ratificar seu relacionamento com seu filho. Se Rey é filha de indigentes mortos, esse tema não pode ser explorado com ela. Se ela é uma Skywalker, isso se torna o tema central da saga mais uma vez.
“Família” versus “Linhagem”
“Quando eu te encontrei, eu vi o que todos os mestres vivem pra ver. Um poder bruto e incontrolável. E além disso, algo muito especial. O potencial de sua linhagem. Um novo Vader.” – Snoke
Por conta da fixação que os vilões tiveram na superioridade do sangue Skywalker, assim como a presença de uma “ninguém” como protagonista, não é nenhuma surpresa a maioria do público achar que a mensagem de Os Últimos Jedi seja “Não importa de onde você vem, você pode sertão poderoso como um Skywalker”. Isso, contudo, contradiz diretamente um dos temas mais centrais da trilogia original – de que é importante aceitar e abraçar sua família, com todas as suas falhas, e de que os laços de amor familiar são mais poderosos do que o que a guerra pode trazer. Então como destacar os erros de Kylo sobre sua descendência sem destruir a mensagem dos 6 filmes anteriores? Notando a diferença entre “linhagem” e “família”. Snoke enfatiza os aspectos frios, cínicos e elitistas da concepção de família: a “superioridade” de certas linhagens genéticas, o conceito de Kylo como um herdeiro, e assim por diante. Da próxima vez que assistir o filme, repare que a palavra “família” nunca aparece no filme. Ao invés disso, são usadas as palavras “sangue” e “linhagem”, palavras com conotações elitistas, violentas, e às vezes até mesmo pejorativas.
Todas as discussões sobre os Skywalkers são em relação ao seu pedigree, não aos laços amorosos que existem entre eles. Enquanto isso, Rey estende esse amor familiar a todos os membros da família Skywalker – sarando Luke, salvando Leia, tentando desesperadamente entender Kylo – sem nem saber que tem o mesmo sangue. Esta trilogia não está tentando criar uma dicotomia entre “linhagem” e “individualidade”, mas sim entre “linhagem” e “família”. Rey pode ser uma Skywalker de sangue e ainda funcionar neste tema, já que seu relacionamento é construído principalmente em amor. Sua família nunca a definiu, mas demonstrando o mesmo amor corajoso e altruísta de seu pai, Rey redefine sua família.
Tema II: Legado
O fardo do passado
“Deixe o passado morrer. Mate-o, se você tiver que fazê-lo. Essa é a única forma de se tornar o que você deve ser.” – Kylo
Enquanto O Despertar da Força acha conforto na nostalgia da trilogia original, Os Últimos Jedi pega esses símbolos e os destroem (pelo menos na superfície). Nem o estilo linear de narrativa – sido consistente por 7 filmes – foi salvo. O filme contém flashbacks, narrações e é talvez o filme mais individual da saga até agora. Os símbolos da antiga Rebelião, X-Wings, Crusadores Calamari e até mesmo o Almirante Ackbar foram descartados sem cerimônia. O filme nos traz o maior Star Destroyer da galáxia e este também é destruído até o final do filme. A mensagem é clara, para mover Star Wars à frente, não podemos mais nos segurar nos símbolos do passado.
E é essa mensagem que define os esforços da família Skywalker no momento. Os chamados Skywalkers são perseguidos pelo seu próprio passado e de sua família. Em Legado de Sangue, publicado no Brasil pela Editora Aleph, Leia perdeu tudo após descobrirem seu verdadeiro parentesco. Luke é um homem ferido tanto pelas suas próprias falhas quanto pelas coisas ruins que sua linhagem fez para a galáxia. Luke e Leia tentaram proteger Ben dos horrores que seu avô cometeu ao esconderem sua linhagem, mas acabaram perdendo-o também.
“Por muitos anos, houve equilíbrio, e aí eu vi Ben. Meu sobrinho com aquele poderoso sangue Skywalker. E em minha arrogância, pensei que eu podia treiná-lo, passando adiante meus pontos fortes.” – Luke
Sendo neto de Darth Vader, Ben Solo se torna o alvo de quem quer criar um novo Vader. Manipulado por Snoke, Kylo Ren procura primeiramente reivindicar o poder de seu avô enquanto corta todos os laços do seu próprio passado ao tentar destruir aquilo que o representa. Após isso ter provado ser falho, ele mata seu mestre e começa a abandonar todos os traços que o identificam como um Skywalker. Longe de ser um dom, o poder e o nome dos Skywalkers prova ser uma terrível maldição. Para sobreviver, é preciso escapar da sombra de Darth Vader. Ainda assim, os três membros conhecidos da família não conseguem se desvencilhar.
Salvando o que importa
“É assim que vamos ganhar. Não lutando contra o que odiamos, mas salvando o que amamos.” – Rose
Em The Art of Star Wars: The Last Jedi, o diretor e escritor do filme Rian Johnson fala sobre os temas principais que ele queria mostrar no Episódio VIII.
“A única forma de ir em frente é abraçando o passado, percebendo o que é bom e o que não é sobre isso.” “Achar que, ‘Não, vamos jogar tudo fora e achar algo novo’ pra mim não é válido.” – Rian Johnson
Se torna claro por esta fala de Rian que a ideia superficial do filme – de que o passado deve ser destruído em favor do futuro – é inadequando em expressar o que Rian Johnson realmente está tentando dizer. Tanto Kylo quanto Luke provam estar errados em seus tratamentos do passado, Kylo por ativamente destruí-lo e Luke por tentar esquecê-lo.
Novamente, a história nos mostra que enquanto as velhas aparências sagradas são destruídas, o coração delas está seguro, embora talvez fraco, para serem levados ao futuro. A árvore Jedi é queimada, mas os textos sagrados estão intactos. O sabre Skywalker está quebrado, mas seu cristal kyber não. As forças da Resistência são dizimadas, mas o coração da rebelião sobrevive. E o que eles tem em comum? Rey é quem os salva. Sem saber, a maior realização de Rey’s é resgatar coisas para que estas possam construir algo no futuro – uma Ordem Jedi, um sabre de luz, uma rebelião. A única coisa que parece estar destruída por enquanto no final do filme é o destino da família Skywalker, a não ser, que, é claro, alguém nesse meio tenha salvo seu futuro sem nem saber disso.
Um contexto para as palavras sábias de Yoda
A fala de Yoda para Luke, ostensivamente sobre os desafios e fardos de um mestre, traz uma referência ao que ele disse antes de se tornar um com a Força em O Retorno de Jedi. “Minhas palavras, não ouviu?” Yoda pergunta a Luke em Os Últimos Jedi, “Passe o que você aprendeu.” Mas Yoda não estava se referindo a um estudante genérico quando ele disse essa frase pela primeira vez. O que ele disse em O Retorno de Jedi foi: “A Força é forte em sua família. Passe o que você aprendeu. Luke… há outro Skywalker.” Ele não está dizendo simplesmente para Luke se tornar um mestre algum dia, ele está especificamente dizendo a ele para passar seus conhecimentos sobre a Força com o que sobrou de sua família (no caso, seria Leia). O propósito deste diálogo, em contexto, é para revelar a Luke que ele tem um membro da família vivo que ele não sabia. Recontextualizando, sabendo Luke suspeitava que Rey era sua filha, foi criada uma pequena conexão para contar isso a ele e aos fãs de forma sutil, assim, não dando a resposta ao público definitivamente e abrindo outra brecha para discussões (aumentando o hype), e à possibilidade de um plot twist para o Episódio IX.
Ao dizer para Luke passar tanto suas falhas quanto seus sucessos, Yoda está dizendo para Luke passar as lições do passado. Ao não contar para Ben o que aconteceu com seu avô e sobre os perigos que o aguardava, Luke e Leia o fez vulnerável a alguém que iria tentar mudar a verdadeira natureza de Vader (Anakin) e seu destino.
Luke tirou a lição errada desse fato, tentando proteger Rey tanto das falhas quanto das vitórias de sua família. Ao invés de guiar Rey para um novo caminho, isso a alienou e fez ela buscar a única pessoa que a parecia entender e que poderia oferecer o que ela estava procurando – Kylo Ren. Yoda repreende Luke por esconder dela o que ela mais precisa.
Então quando Yoda pergunta a Luke, “Minhas palavras, não ouviu?” podemos não estar errados em imaginar a quais palavras exatamente ele está se referindo.
Tema III: Identidade
Todo mundo é alguém
“Você não tem nenhum lugar nesta história. Você vem de um nada. Você é um nada.” – Kylo
Um dos temas mais comentados sobre Os Últimos Jedi é a ideia de que heroísmo pode vir de qualquer lugar. Rey, uma “ninguém” de “lugar nenhum”, se ergue como sendo tão poderosa como seu inimigo, um dos mais fortes usuários da Força na galáxia. Finn, que apenas um filme antes era um soldado sem rosto, agora se tornou um ícone aos olhos da Resistência. Ainda terminamos o filme com um menino sonhador de um estábulo que usa a Força para pegar uma vassoura.
Este tema continua no livro cânon The Legends of Luke Skywalker, ainda sem publicação no Brasil, onde enfatiza como Luke Skywalker, um herói lendário na galáxia, passou muito de seu tempo após a Batalha de Endor como um viajante pobre na galáxia, andando como um indigente para se camuflar em meio a multidão, como a história The Myth Buster nos mostra. Em um ponto do livro, mostra que ele estaria ganhando a vida como sucateiro em Jakku, e pilotando um A-Wing modificado – certamente um detalhe estranho para se adicionar a um personagem com nenhuma conexão a outros sucateiros, nem mesmo Anakin era sucateiro. Acompanhe os trechos deste livro:
“[…] Após uma hora ou duas, ele iria retornar, às vezes de mãos vazias, mas na maioria das vezes carregando peças de maquinário ou de eletrônicos que ele tenha encontrado. […] ‘Essas coisas tem sistemas mais independentes,’ murmurou a si mesmo. ‘Melhor guardar… Ah, me sinto como se alguém tivesse atirado na minha perna.’ Ele virou para mim. ‘Melhor tirar uma soneca. Vou estar fora mais tempo do que o habitual.'”
“[…] A nave não era daquelas que você encontra todo dia: um modelo militar em forma de A com dois lugares, pintura desgastada, cheio de marcas e cortes por todo o casco. Era provavelmente um veículo militar excedente convertido para uso civil e modificado tantas vezes que é difícil dizer se há alguma peça original sobrando. ‘Quer uma carona?’ O piloto era jovial, com um brilhante olhar de felicidade. O estado da cabine do piloto mostrava que ele estava viajando a um bom tempo. ‘Entra. Sou Luke.'”
Assim como alguém de origens humildes pode ser grande, este livro mostra que alguém grande pode ser humilde. O fato de que Luke carrega o sobrenome Skywalker, assim com seu legado, não diminui o fato de que ele ainda é um “ninguém” aos olhos de quem o vê. “Todo mundo pode ser alguém”, afinal, até o sucateiro que conserta droides de viajantes no deserto de Jakku. Então, neste sentido, Rey Skywalker, em paralelo com seu pai, iria assim mesmo carregar o tema “todo mundo pode ser alguém”, sem sacrificar temas profundos de família e legado presentes no plot.
Paralelos com sentido
Uma das maiores críticas a O Despertar da Força foi como a jornada de Rey era tão parecida com a jornada de Luke na Trilogia Original. Os Últimos Jedi, mesmo com todas as mudanças, continuou esses paralelos, pelo menos até um certo ponto. Rey vai a um planeta distante para treinar como Jedi, tem uma visão que a faz querer sair prematuramente, cai nas mãos do inimigo, confronta o “chefão” na sala do trono e é resgatada quando o antagonista mata o “chefão” (mesmo com um final diferente, sem redenção). Se Rey é, de fato, só uma “ninguém” seus paralelos com Luke seriam tanto uma cópia da Trilogia Original quando um completo desperdício da sua personagem servindo somente para ter um plot twist sobre seu parentesco. Entretanto, se ela é filha de Luke, esses paralelos se tornam – e continuam – cheios de significado e emoção: uma garota cujo coração é tão parecido quanto o do pai que segue seus passos e leva seu bom legado adiante sem nem saber disso.
Pense no que a caverna de espelhos está tentando dizer a Rey: se você quer encontrar as respostas que procura, olhe para si mesma. Ou, em outras palavras, “Você é uma jovem Jedi cheia de compaixão que embarcou em uma missão de salvar a galáxia ao tentar redimir seu inimigo através do amor e do perdão. Quem é o seu pai?”
Tema IV: Equilíbrio
“A escuridão se ergue, e a luz para encontrá-lo.” – Snoke
O conceito de Bem e Mal é apresentado em Star Wars como interconectados, como dois lados de uma mesma moeda. Eles se equilibram. Medo, raiva e ódio são equilibrados pela paz, paciência, e compaixão, egoísmo pelo altruísmo. Tanto o Lado Sombrio quanto o da luz são parte da Força e nunca podem ser eliminados totalmente. Mas isso não significa, como muitos pensam, aceitar o Lado Sombrio como um equivalente moral da Luz – o Lado Sombrio sempre foi mostrado como destrutivo e perigoso pela sua própria natureza sombria.
O “equilíbrio” mora em aceitar a presença da Escuridão, tanto na galáxia quanto dentro de nós, enquanto deixamos a Luz brilhar sobre a Escuridão. Isso é mais distintivamente refletido no personagem Anakin Skywalker/Darth Vader, um homem que, durante toda a sua vida, encarnou o melhor e o pior da natureza humana. Mas sua redenção como personagem não vem por abraçar a Escuridão e a Luz de forma igual, mas sim deixando a Luz dentro dele – sua verdadeira identidade, Anakin Skywalker – brilhar sobre a Escuridão que ele veio deixando reinar por tantos anos.
“Meu aprendiz valioso, filho das trevas, aparente herdeiro de Lord Vader.” – Snoke
Então quando somos apresentados a Kylo Ren, um personagem que está explicitamente sendo referido como sendo tanto o herdeiro biológico como espiritual de Vader (observe, não de Anakin), é razoável dizer que seu propósito na narrativa é, em parte, deixar que a sombra de Vader continue aterrorizando a família Skywalker. Se seu rival mais direto e pessoal, Rey, é uma “ninguém”, então seu conflito se torna simplesmente aquele velho conflito entre o bem e o mal (ou, como muitos sugerem, Luz e Escuridão aprendendo a coexistir pacificamente – algo que a própria natureza do Lado Sombrio torna impossível), e, pior, transforma a família Skywalker em uma praga que deve ser destruída. Mas se ela é a outra neta de Anakin Skywalker, sua rivalidade se transforma no clímax mais poderoso de um arco de 9 filmes. Quando Rey e Kylo lutarem, não será simplesmente uma pessoa boa lutando contra uma pessoa má. Será a encarnação do lado bom de seu antepassado contra a encarnação do lado ruim do mesmo antepassado.
Sua rivalidade se torna símbolo do tema mais importante da Saga Skywalker: “tanto Luz como Escuridão existe dentro de nós – mas qual determina nosso legado?” Se Rey é uma Skywalker, então o sabre ignorando Kylo e voando até as mãos dela em O Despertar da Força se torna mais do que uma ceninha legal – se torna algo profundo e uma resposta a esta pergunta fundamental.
Não é por acaso que Rey e Kylo compartilham características similares e servem de paralelos para os lados bom e ruim da vida de Anakin, respectivamente. Rey, como Anakin, foi criada em um mundo desértico em condições análogas à escravidão. Ela é uma piloto e mecânica talentosa. Foi mostrado em O Despertar da Força que ela se preocupa excessivamente em voltar para Jakku com medo de nunca mais ver sua família. Ela tem o sabre de Anakin. Kylo, como Vader, é o aprendiz traidor que destruiu a Ordem Jedi. Ele serviu um mestre do Lado Sombrio nos maiores cargos militares de um império semelhante ao nazismo (neste caso, neo-nazismo) e então se virou contra esse mestre e o matou. Kylo tem o capacete de Vader. Se eles são realmente os dois netos de Anakin Skywalker, então sua batalha decide ultimamente o que vai ser o seu legado. Irá a sombra de Vader continuar aterrorizando a galáxia ou o legado de Anakin será redimido tanto quanto o próprio Anakin foi?
Seria uma luta de legados que ligaria, mais do que nunca, as três trilogias. Por isso que, na perspectiva temática, Rey Skywalker se faz necessário. Não estamos dizendo que é esta teoria que vai ser confirmada no Episódio IX. Estamos oferecendo uma nova perspectiva no que achamos ser crucial para a sobrevivência do legado da própria franquia no futuro. No próximo post do dossiê, explicaremos por que ReySky é imprescindível do ponto de vista contextual.