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Marcia Lucas, montadora de cinema e ex-esposa de George Lucas, e seu desabafo sobre as sequels

Estreou ontem no Disney+ os 9 episódios de Star Wars Visions e como sempre ocorre no mundo pop, os acontecimentos que rodeiam um grande evento midiático traz também as notícias baseadas no universo da franquia.

Um dos acontecimentos foi publicado no site Comic Book na qual a ex-mulher de George Lucas afirma que J.J. Abrams e Kathleen Kennedy “não sabem o que estão fazendo”.

O verdadeiro motivo desse desafeto ter sido desenterrado é porque saiu nas páginas de um livro lançado recentemente sobre Howard Kazanjian, produtor de O Império contra Ataca e O Retorno de Jedi, intitulado Howard Kazanjian: A Producer’s Life.

J.J. Abrams e Kathleen Kennedy

“Gosto da Kathleen. Sempre gostei dela. Ela era cheia de esperanças. Ela era muito inteligente. Mulher realmente maravilhosa. E eu gostava do marido dela, Frank. Gostava muito deles. Agora que ela dirige a Lucasfilm e faz filmes, parece-me que Kathy Kennedy e J.J. Abrams não têm a menor ideia sobre Star Wars”, diz um trecho do livro. “Eles não entendem. E J.J. Abrams está escrevendo essas histórias – quando eu vi aquele filme em que matam Han Solo, fiquei furioso. Fiquei furioso quando eles mataram Han Solo. Com certeaza, positivamente, não havia rima ou razão para. Eu pensei: ‘Você não entende a história Jedi. Você não entende a magia de Star Wars. Você está se livrando de Han Solo?’”

Marcia Lucas
Marcia e George Lucas

Marcia Lucas não é apenas a ex-esposa de George Lucas, ela é, antes de tudo, uma montadora de cinema que trabalhou com os principais diretores da Nova Hollywood (nome dado aos diretores que vieram da década de 70 como Steven Spielberg, George Lucas, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, James Cameron, entre outros). Quando George Lucas surgiu no ramo de cinema, tinha aspirações iguais da esposa, sempre se colocou primeiro como um montador que, depois das experiências de dirigir THX-1138 e American Graffiti, queria encontrar um diretor para sua space opera e com a ousadia pra época que gerava medo nos diretores de embarcarem em um projeto tão louco, acabou aceitando o cargo de diretor e produtor, bancando o próprio filme.

Muitas decisões tomadas no filme de 1977 vieram da sensibilidade da montadora que assinou outras montagens (entre elas, está o clássico cult Taxi Driver, de Martin Scorsese). Comentamos um pouco disso na 4ª parte da série Storytelling do podcast Vozes da Força e sabemos que a forma de se pensar e fazer cinema desses diretores da Nova Hollywood se assemelham. Não é novidade a recepção das sequels por parte desses criadores. Na estreia de O Despertar da Força em 2015, George Lucas, extremamente irritado, reclamou do filme citando poucas palavras como “Star Wars não é apenas um filme de naves”. Sabemos que ao vender a franquia para Disney, ele perdeu o controle total da franquia.

O que ocorreu depois disso foi um ataque maciço de misoginia à produtora executiva Kathleen Kennedy como se a produção de um filme de Hollywood tivesse apenas uma pessoa para os raivosos pendurarem na forca. O cinema é uma arte do coletivo para o coletivo, essa é a primeira questão a ser levantada. A segunda é: quem teria coragem de apontar o dedo pro top da pirâmide e acusar o CEO da Disney de algo errado (na época, era Bob Iger). Com muito custo os exposed que Angelina Jolie fez a Harvey Weistein demorou muito tempo e com o tempo as outras vítimas de assédio foram acusando na medida que se sentiam seguras. Ou seja, dificilmente alguém vai culpar o patrão e disso o ator John Boyega entende bem.

Não é uma tarefa fácil chegar no foco do problema apontando o chefão, ainda mais quando essa pessoa negou a utilização de ideias já rabiscadas do que seriam dos próximos filmes. O que sobra a partir daí é lançar quase uma reformulação daquilo que já estava sendo feito e, nesse processo, a trilogia sequel foi para o tudo ou nada. Aqui pela página Sociedade Jedi em seus perfis sociais, temos um público dividido entre os que gostaram, os que não gostaram e aquela ala barulhenta que além de não gostar, faz uma cruzada querendo forçar goela abaixo a rejeição aos filmes.

A montadora continua:

“Eles fizeram Luke se desintegrar. Eles mataram Han Solo. Eles mataram Luke Skywalker. E eles não têm mais a Princesa Leia. E eles estão cuspindo filmes todo ano”, acrescentou Márcia. “E eles acham que é importante atrair o público feminino, então agora sua personagem principal é essa mulher, que supostamente tem poderes Jedi, mas não sabemos como ela conseguiu poderes Jedi, ou quem ela é. É uma merda. As histórias são terríveis. Simplesmente terríveis. Terrível. Você pode me citar… J.J. Abrams, Kathy Kennedy – fale comigo.”

Capa do livro Howard Kazanjian: A Producer’s Life

Com este depoimento, fica claro que Marcia Lucas havia dado este depoimento pouco depois do Episódio VIII, Os Últimos Jedi, pois como o livro foi escrito por J.W. Rinzler, falecido recentemente em julho, vítima de um câncer no pâncreas, o livro estava em fases finais de ser lançado e logo de cara o maior impacto midiático veio deste depoimento, alimentando boa parte dos veículos norte-americanos que ultimamente se apoia em pautas alarmistas do que cobrir as boas obras da saga que ganhou escopo, sejam os livros da Alta República ou os 2 filmes e 11 séries anunciados na Investor’s Day.

Nossa conclusão é que o malabarismo de nos desligarmos da trilogia sequel para ficarmos nos novos produtos é sempre interrompido quando alguns veículos necessitam de uma crise para que o mundo volte a girar.

Chegamos em uma fase da vida em que podemos escolher em qual mídia da saga podemos debruçar pra cultuar a saga nas obras que mais dialogam conosco. Não vai existir uma saga com unanimidade de qualidade em suas obras seriais, ainda que se leve em consideração que gosto é algo visto por um prisma muito pessoal. E se sabemos que o tempo não volta e o que nos resta é se conformar, melhor do que reverberar a energia do desafeto, seria se apegar mais naquela parte onde a saga mas dialoga com a gente. Afinal, 45 anos de Star Wars não vai atrair apenas um gosto ou tipo de pessoa, por nossa sorte, a pluralidade que George Lucas criava na galáxia, deixava o criador esperançoso de que seu público compreenda que temos muitas gerações que vieram parar debaixo do mesmo teto lúdico, do mesmo campo das imaginações que mais deve nos unir a sonhar do que digladiar por diferenças.

Eis o segredo de viver e desfrutar a vida, que já não anda fácil.

Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema 
Especialista em Comunicação 
Graduado em Audiovisual e Multimídia”O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller

Revisado por: Alexandre Agassi
Cinéfilo de carteirinha

Vebis Jr

Professor/produtor/pesquisador/podcaster em Cinema. Velho anarco punk rocker! https://twitter.com/Vebisjunior