O vazio desafeto que Rian Johnson deixou em uma parte dos fãs
O ano de 2017 foi marcante para os fãs de Star Wars. Foi quase uma reprise do que vimos em 1980, com o diferencial de que naquela época as pessoas não tinham perfis sociais para extravasar suas decepções, o que já dá uma grande diferença no efeito ao redor do fato.
Em 2015, tivemos o retorno da saga de Star Wars sob uma nova tutela: a Disney, selo de qualidade que se tornaria elogio para aqueles que entendem o fenômeno que a empresa é até hoje, e um marco negativo para muitos que atribuem à empresa, o disjuntor que ligou a saga a uma fase maldita quando fosse conveniente, mais precisamente, quando a gente ouve por aí que “a Disney estragou Star Wars“.
Nossa natureza humana é movida por paixões e sabemos o quanto isso se torna um confuso exercício que envolve amor e ódio, como diz o psicólogo Diogo Besson no nosso podcast Vozes da Força #22, intitulado “Mantendo a Força na Quebra da Expectativa”, fator esse que obscurece nossa visão para se ater a detalhes importantes para compreender o processo final. Sabemos que uma saga que sai debaixo dos braços do criador George Lucas para ir aos cuidados de três (depois se tornou 2) diretores que pouco se comunicaram, além de processos de troca de roteiristas ou troca de diretores. O rosto da vilania escolhida pelo fandom foi da produtora executiva Kathleen Kennedy, deixando de lado a ordem do cume da pirâmide de Bob Iger, que posteriormente se desculpou em sua biografia. Esse assunto já dissecamos aqui em outro texto. Para conferir, acesse aqui.
Também detectamos e pesquisamos em campo um pouco do que foi a transformação das mídias sobre a saga: o que os criadores de conteúdos estão preocupados em informar o fã, nosso ponto acertivo no Brasil, pois o foco número um do criador de conteúdo é manter o leitor / fã atualizado, enquanto boa parte dos criadores norte americanos alimentam seu ego atacando membros da Lucasfilm ou criando falsas narrativas que mais parecem alimentar pessoas que escolhem no que quer acreditar.
E hoje, temos os principais veículos de Star Wars noticiando algo que simplesmente paramos de falar e não sabíamos o resultado final desde o Inverstor’s Day: a prometida trilogia de Rian Johnson. O resultado está aí em todos veículos da saga: uma bipolaridade que nos traz um flashback do que foi o final de 2017 e se estende até hoje.
Porém, nesta semana o diretor Rian Johnson concedeu uma entrevista a escritora Sariah Wilson e lá ele confirmou aquilo que havia ficado no ar nestes últimos tempos, a tão falada trilogia de Johnson não foi abandonada. Ela segue firme e forte, embora não saibamos quando. Mas aos interessados em pontos interessantes a se pôr na balança, siga conosco no texto de mente aberta.
Um Criador Engessado
Quando Rian foi anunciado como diretor do oitavo episódio, quer queira ou não, ele fica limitado ao que deveria estar planejado entre dois filmes. A vantagem de Johnson é que ele escreveu e dirigiu o oitavo. Enquanto que J.J. Abrams apenas dirigiu o sétimo e nono, com o diferencial de que o sétimo quem escreveu foi Michael Arndt no começo, sendo substituído pelo velho conhecido Lawrence Kasdan (que tinha escrito os roteiros de Império Contra-Ataca, Retorno de Jedi e o argumento primário do filme Solo, seu personagem favorito). No nono filme, tivemos a roteirização por conta de Chris Terrio, elogiado pelo bom trabalho em Argo e vilanizado pelo seu trabalho em Liga da Justiça.
Se Star Wars deixa de ser uma obra que sempre esteve sob os cuidados e foi planejada por George Lucas como uma trilogia pensada de uma vez só e depois produzida, já a trilogia sequel, como todos devem saber, foi escrita durante o percurso. Temos então dois pontos contra o fator de um planejamento de trilogia parecer funcionar. Mas em todos filmes que saíram, o único filme que conseguiu passar sem maiores problemas com o topo da pirâmide foi justamente o oitavo filme que obedecia às exigências feitas dos grandes produtores na qual sabemos que são muito mais pessoas do que apenas Kathleen Kennedy.
A quem acompanha a carreira do diretor sabe o quanto ele é arrojado, basta ver o quanto recebeu elogios de crítica e público em seus filmes anteriores e posteriores ao oitavo filme da saga. A responsabilidade que ele carregou no oitavo filme, foi uma ordem de cinema que ele de fato cumpriu muito bem, o objetivo da ruptura. Ficou bem claro que se o sétimo filme caminhou por uma área segura para trazer novos fãs e manter os antigos ligados pelos novos personagens, o oitavo já mostrou ao que veio em deixar claro em vários momentos que seu objetivo, sua proposta era causar uma ruptura em tudo que Star Wars era, causando assim um divisor de águas. E convenhamos, mesmo aqueles que defendem o filme porque gostam dele, entenderam sua missão de deixar a saga de cara com o gol com tudo que poderia ser novo. Só não imaginávamos que o filme seguinte seria o retorno de J.J. Abrams, a morte de Carrie Fisher e uma postura de recuo com a proposta admitida no oitavo filme. Para compreender melhor isso, basta ler o que seria o roteiro ou novelização de “Duel of The Fates” para entender qual era a ideia de como terminaria essa trilogia se tivesse mantido aos cuidados do roteirista Derek Connolly e do diretor Colin Trevorrow.
Ao que foi pedido, foi entregue sem maiores problemas, a não ser os que enfrentaram em condições climáticas que vimos no documentário O Diretor e o Jedi, um belíssimo extra disponível no Blu-Ray do oitavo filme e também no Disney+, que faz compreendermos de forma mais ampla o processo criativo do filme.
A Liberdade de se Começar do Zero
As evidências que carregamos da probabilidade de acerto de um diretor está em suas outras obras de maior relevância. Se por um lado, boa parte dos fãs o massacram porque adotam a retórica da quebra de expectativa, agora poderão pensar que não terá nada que o impedirá de ser criativo, pois agora ele poderá criar uma trilogia a partir do zero.
Quando um diretor acumula em sua carreira o cargo de roteirista e diretor, ele tem a capacidade de se encaixar e adequar àquilo que lhe é exigido. Conforme dissemos anteriormente, a demanda é entregue e se tem pouca liberdade de criação, apenas um objetivo a se alcançar quando você está no meio de um processo e notamos a diferente opção estética que cada diretor tomou ao querer assinar sua obra.
Ainda não tivemos acesso a essa entrevista que Rian concedeu à escritora, mas muito do que os fãs praguejam contra pode ser repensado ao ver o que um diretor tem a dizer se este projeto de trilogias estiver em andamento, onde pode haver um respeito pelo caminho criativo e assim não repetir os erros que a trilogia sequel nos traz de lição.
O cinema sempre foi e continuará sendo uma obra de tentativas, erros e acertos. E sabemos que o erro assimilado pela alta chefia se resultou em 11 séries que vez ou outra dialogarão entre si e dois filmes com diretores que tem conquistado notoriedade e prestígio em mídias de cultura pop, como é o caso de Taika Waititi e Patty Jenkins.
Se Rian realmente ainda detém o poder da tal trilogia, nosso caminho pode ser outro: trocamos a reclamação em perfis sociais por uma observação em suas outras obras para compreender o quanto seu nome tem crescido dentro do cinema hollywoodiano.
Por: Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema
Especialista em Comunicação
Graduado em Audiovisual e Multimídia
“O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller
Revisado por: Alexandre Agassi
Jornalista e apaixonado pela sétima arte