THE MANDALORIAN | Diretor Robert Rodriguez fala da alegria de dirigir o capítulo que valoriza Boba Fett
Na última semana, o episódio de The Mandalorian trouxe uma surpresa de longa data para os fãs: o retorno de Boba Fett. É comum nos fóruns as discussões entre fãs da saga, onde alguns o classificam como “overrated”, enquanto que parte do fandom se debruçou a cultuá-lo por terem criados excelentes quadrinhos e livros. Ainda assim, existia aquela parcela que desacreditava o personagem sob a pecha de ter morrido de uma forma tão irônica.
Aqui vale lembrar que a história de culto ao personagem acontece há muito tempo: desde o odiado especial de Natal Holiday Special, em que existe um trecho onde Boba Fett aparece em um desenho animado, até ao fato de que de todas primeiras action figures da saga Star Wars, o único que havia uma certa interatividade no final dos anos 70 era a de Boba Fett, que arremessava seu projétil do jetpack, algo que o documentário da Netflix Brinquedos que marcaram época nos conta logo em seu primeiro episódio.
Porém, o bônus que The Mandalorian nos trás não é apenas o retorno de um personagem amado por muitos e odiado por outros, mas o retorno do emblemático ator Temuera Morrison que emprestou seu corpo não apenas para o pai/matriz Jango Fett, mas como para todos clones presentes nos dois longas finais das prequels. Vamos ver mais de perto qual o trabalho que o ator fez com o diretor Robert Rodriguez para trazer profundidade ao personagem e seu drama pessoal. Rodriguez é famoso por dirigir alguns filmes que beiram a insanidade dos limites. Desde ouvir uma historinha de seu filho de 5 anos e usá-la como base para o longa infantil As Aventuras de Shark Boy e Lava Girl, ou a sua franquia infantil Pequenos Espiões e juntamente com The Mandalorian, apresenta pela Netflix seu projeto infantil Pequenos Grandes Heróis (We Can Be Heroes), novo filme da franquia Sharkboy e Lavagirl, que conta inclusive com a atuação de Pedro Pascal, que interpreta o nosso Mando.
Foi criador junto ao Tarantino de experiências viscerais como o projeto GrindHouse dividindo com um de seus melhores amigos, o diretor Quentin Tarantino o seu filme Planeta Terror, enquanto Tarantino rodava A Prova de Morte.
A bitola digital ainda facilitou o diretor em outras obras interessantes como Era uma vez no México ou Sin City – A Cidade do Pecado e até chegar ao ponto de ter um longa financiado pelo diretor /produtor James Cameron (Avatar) e rodar o primeiro filme do projeto de adaptação de Alita – Anjo de Combate. Nesta semana a revista Collider sentou junto ao diretor para entrevistá-lo sobre o filme Pequenos Grandes Heróis e com certeza não teria como deixar de lado saber mais sobre o sexto episódio dessa segunda temporada dessa revolucionária série.
“Era o meu sonho de 12 anos. Quando eu tinha 12 anos, Império Contra Ataca foi lançado e eu era um grande fã de Boba Fett. Você sabe, eles já nos causavam um efeito antes mesmo do filme sair. Você já sabia que ele seria um personagem que chamaria nossa atenção. O marketing foi realmente ótimo, tipo, ‘Esse personagem, o Boba Fett‘, então quando você vê o filme, fica aquela sensação de querer ver mais. Ele capturou nossa imaginação antes mesmo do filme sair; e isso se tornou facilmente o assunto mais falado na escola. Ainda me lembro disso, de como aquele personagem era misterioso. Você tem uma experiência breve com ele, mas fica aquele gostinho de quero mais”
Robert Rodriguez
Rodriguez se empolga em contar: “Quando eu vi o script (Favreau que me enviou o script) e eu lia ali personagens e outros objetos, palavras como ‘Boba Fett’ , ‘Darksaber’ e ‘Mando’ e ‘Fennec’, eu estava tipo, ‘Isso nem sequer parece um roteiro de verdade. Parece que um fã escreveu isso em um sonho febril esperando que fosse um episódio igual os fanfics de fã apaixonado. Mas sim, esse era o roteiro com todos detalhes incríveis junto. Foi como um ‘Maior sucesso’ de todas as coisas boas; eu não podia acreditar. Parecia que eu estava brincando de Star Wars com todos os brinquedos e ainda poder brincar com Boba Fett como um de seus [personagens] principais – eu só pensei, ‘Eu tenho que ir lá fazer isso acontecer … Não sei se ele vai aparecer em mais episódios ou o quê, então eu só tenho que torná-lo super fodão neste momento [e] ser aquele personagem que eu imaginei que ele fosse quando eu ouvi sobre ele quando eu tinha 12 anos. Essa era minha missão, apenas para satisfazer aquela fascinação de garoto de 12 anos com o personagem que sempre acompanhei”
O repórter da revista Collider também se perguntava se havia alguma cena que não entrou no episódio de Rodriguez. The Tragedy, que foi repleto de ação, bem como uma história com um drama que se desenha de forma comovente em torno de Din Djarin (Pedro Pascal) e Baby Yoda. E Rodriguez assume que teve que deixar alguma coisa de fora na sala de edição. (Imagina só o que ficou de hora, hein?)
Para surpresa dos entrevistadores e nossa, Rodriguez revelou que “o roteiro era muito curto” e continuou: “O roteiro era muito mais curto do que o episódio. O roteiro tinha, tipo, 19 páginas, o que sugere 19 minutos. Eu adicionei muitos planos de ação para que este episódio ganhasse corpo. Eu até perguntei a Jon [favreau] se ‘Estava tudo bem que meu roteiro tenha apenas 19 páginas? Porque eu cortei alguns planos muito rápido usando de alguns improvisos e provavelmente acabaria tendo 16 minutos. Rodriguez perguntou se “Precisaria adicionar mais páginas que viriam do roteiro de Favreau (nosso criador quem escreveu este capítulo) respondeu ao diretor: ‘Não, Robert! É para isso que você está aqui! Você precisa preencher isso.’ Eu disse, ‘Oh, ok, vou tentar tornar essa batalha mais longa.’ Então é daí que veio essa batalha extra.”
Rodriguez continuou: “Eu sei que minha tendência no cinema é cortar as coisas bem apertadas. Se eu tenho um roteiro de 100 páginas, é um filme de 90 minutos. Então eu tinha um roteiro de 19 páginas [e] pensei, ‘Uau! Eu’ vou ficar sem coisas para fazer, então adicionei um monte de ação.”
E assim, pudemos notar que o diretor não apenas cumpriu sua inserção de planos de ação mas também a assinatura de diretor que tem orgulho de rodar boas obras em solo árido coo vimos em Um Drink no Inferno, Machete, Era uma vez no México, filmes que prezam por Ações – Limite que se destacam pela ousadia estética que com certeza fez muitos se espantarem.
Para quem não sabe, o diretor é um “showman”, que não apenas assume a cadeira de diretor, mas em seus filmes realizados pela produtora Troublemaker, ele também é produtor, faz trilhas sonoras, roteiriza, faz o design de produção, a montagem dos filmes e todos processos até a veiculação final. É comum nos créditos finais de seus filmes, vermos o nome dele presente em quase todos departamentos. Ao que parece, depois da escolha a dedo de diretor para este episódio, finalmente os fãs deste personagem poderão dizer que Boba Fett não é apenas um personagem de visual legal. Ele demarcou seu território em sequências memoráveis que levaremos para sempre e vale, inclusive, um grande adendo aqui: o tempo de tela que o ator Temuera ganhou antes de vestir o beskar sagrado há quase 40 anos, além de claro, trazer nos diálogos finais a validação do alvará mandaloriano que sempre era colocado em cheque pelos fãs da saga. Honra essa que foi respeitada pelo nosso fanático do credo que imediatamente o decreta que é mandaloriano e ganha de lambuja a continuação da promessa de trazer a criança a salvo. Em meio a tantos trunfos que este episódio nos trás, o ator estar acima do peso é um detalhe patético frente a colaboração do personagem naquilo que mais nos importa: a narrativa e história.
Entrevista traduzida do site Collider.
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Atenciosamente,
Prof.º Me. Vebis Jr
Mestre em Cinema
Especialista em Comunicação
Graduado em Audiovisual e Multimídia”O Cinema é um campo de batalha” – Samuel Fuller