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Dossiê | Rey Skywalker em Os Últimos Jedi (Parte VI) – Análise Simbólica

Este é o sexto post do nosso dossiê. Como toda teoria, leve isso como especulação, e antes de comentar sobre, defendendo ou atacando esta teoria, leia toda a matéria (e se possível, todo o dossiê) para não expressar opiniões equivocadas ou sem fundamento. Obviamente este post contém spoilers de Os Últimos Jedi, além de spoilers do livro cânon The Legends Of Luke Skywalker, ainda sem tradução no Brasil. Também inclui informações do Dicionário Visual.


No penúltimo post do nosso dossiê, vamos examinar o simbolismo de Os Últimos Jedi e o que isso nos diz sobre Rey, Luke e a família Skywalker. Alguns já foram explorados na análise temática, mas aqui exploraremos muito mais os simbolismos do filme.

Espelhos

Reflexos

Rey: E um Jedi quem o salvou. Sim, o homem mais odiado da galáxia. Mas você viu conflito nele. Acreditou que ele não estava perdido. Que ele podia voltar.

Luke: E eu me tornei uma lenda. Por muitos anos, houve equilíbrio, e aí eu vi Ben. Meu sobrinho com aquele poderoso sangue Skywalker. E em minha arrogância, pensei que eu podia treiná-lo, passando adiante meus pontos fortes.

Quando Luke reconta as falhas dos Jedi em um esforço de fazer com que Rey não siga seus passos, Rey conta como Luke viu a luz em Vader e o redimiu. Luke zomba do sangue Skywalker e diz que isso o fez uma lenda e fez com que ele pensasse que pudesse ensinar seu sobrinho a superar a verdadeira natureza de sua linhagem. Rey, achando que Luke está falando de Ben como um aluno, se opõe a ele dizendo que onde Ben falhou com ele, ela não iria falhar.

Exatamente no meio do filme, Rey encontra o espelho na caverna sombria e pede para ver seus pais. Para sua decepção, o espelho só mostra sombras antes de mostrar seu próprio reflexo. No entanto, Rey não entende que o espelho, sendo um espelho, só pode mostrar aquilo que está na frente dele. Ela procura uma resposta externa sobre seus pais quando a resposta já está dentro dela. Ao procurar respostas sobre quem ela é de uma fonte externa, Rey está tentando pegar o caminho mais fácil e rápido.

Enquanto Rey não entende o que o espelho quer lhe dizer, a cena implicitamente tenta dizer aos espectadores que a resposta está no que Rey faz. Depois de saber o que realmente aconteceu na noite do massacre, Rey diz a Luke que ainda há luz em Kylo – assim como Luke viu luz em Vader como o filme bem nos lembrou – e pede que ele vá confrontá-lo. Após Luke recusar, ela sai pra fazer o que ela acredita ser melhor, assim como Luke deixou Yoda pra resgatar seus amigos.

Assim que ela chega na nave de Snoke, o filme nos mostra uma versão resumida da cena de Luke na sala do trono do Imperador. A cena do elevador corresponde à conversa entre Luke e Vader no corredor em Endor. Snoke recebe Rey e remove suas algemas assim como o Imperador removeu as de Luke. Snoke coloca o sabre de Rey no trono, na mesma posição em que o Imperador colocou o sabre de Luke em O Retorno de Jedi. Até o diálogo é praticamente idêntico.

Snoke também força Rey a ver a destruição das naves de transporte da Resistência assim como Luke teve que assistir da janela da segunda Estrela da Morte a destruição de algumas naves rebeldes. E também, assim como no Episódio VI, o aprendiz do mal volta-se contra o seu mestre. Mas as semelhanças param por aí, pois Kylo faz isso para tomar o seu lugar e tentar fazer com que Rey vá para o Lado Sombrio. Como Kylo não quis se redimir, Rey vai a Crait para se juntar a seua amigos, aqueles que realmente se importam com ela. E no final do filme, Luke e Rey resgatam a Resistência. Luke distrai Kylo e a Primeira Ordem enquanto Rey remove as rochas que estavam impedindo os sobreviventes de escapar.

O espelho nos diz que a resposta verdadeira sobre quem são os pais de Rey serão refletidas nela e então ela passa toda a outra metade do filme espelhando as ações de Luke na Trilogia Original. E finalmente, sem saber, ela se junta a seu pai para salvar aqueles que ela ama.

Encontrando o pai na caverna

Quando Rey entra na caverna de espelhos querendo saber quem são seus pais, ela encontra duas sombras desfocadas que aparentemente se tornam uma. Quando ela tenta descobrir o rosto da sombra, o espelho mostra seu próprio rosto. Não só isso é uma referência à experiência de Luke na caverna em Dagobah – onde ele vê seu próprio rosto na máscara de seu pai – mas a sombra que vem à frente das outras duas é claramente masculina, com um visual, digamos, familiar:


Outra observação interessante é que Rey pede para ver seus pais, mas a sombra que se parece com Luke é a que vem direto para a frente. O fato de evitarem dizer a palavra “pai,” justaposta com o quão óbvio é a identidade da sombra, nos faz perguntar por que eles chegam tão perto de confirmar a conexão entre Luke Skywalker e Rey, mas mesmo assim tentam contornar o assunto. Mas o fato de que uma simples sombra vem à frente mostra a significância (para a narrativa, obviamente) de um dos pais da Rey (o pai) sobre o outro. Isto tem o efeito automático de remover “ninguém em especial” da lista de possibilidades de parentesco.

Quando “Skywalker” se torna plural

“Se Skywalker retornar, novos Jedi irão surgir.” “[Seu igual na Luz seria] Skywalker, assumi.” “Skywalker vive. A semente da Ordem Jedi vive.” Todas essas falas deveriam se referir a Luke, mas, ao final de Os Últimos Jedi, todas essas frases terminam se referindo a Rey. Luke não “retorna” de fato como Snoke está indicando nessa fala de O Despertar da Força – mas Rey sim. Luke não é o igual na Luz de Kylo – mas Rey sim. E no fim, Luke não vive pra restaurar a Ordem Jedi – mas Rey sim. Todas as previsões de Snoke são verdadeiras se Snoke simplesmente assumiu isso sobre o Skywalker errado. Mesmo que não seja crucial na história de Rey, este jogo de palavras terá um sentido ainda mais emocionante se Rey é filha de Luke.

O Sabre Skywalker

“Uma oferta. Um pedido. A única esperança da galáxia.”

O sabre pode ser visto como uma representação física da família Skywalker e de seu legado. Quando Rey o estende para Luke, é um pedido que simbólico para que ele aceite o legado de sua família (“A verdade que é sua família”) e ainda, um pedido da Força pra que ele reconheça Rey somo sua filha. Quando ele joga o sabre pra longe, ele está não só rejeitando esta identidade, mas também negando isso a ela. Mesmo com a rejeição de Luke, Rey recupera o sabre, o que simboliza a aceitação do legado de sua família, mesmo sem saber disso. Após Rey confrontar Luke sobre o que realmente aconteceu na noite do massacre, ele implora a Rey pra que ela não saia e ela o oferece novamente o sabre mais uma vez, o qual ele rejeita novamente. Num estilo Skywalker, Rey toma o fardo de salvar a galáxia por ela mesma.

No fim, Luke aparece para ganhar tempo para a Resistência e criar mais uma lenda. Ele aparece mais jovem e falando como o Luke que conhecemos. De fato, sua afirmação “Ninguém se vai totalmente.” é tanto sobre ele quanto sobre Ben. No entanto, o simbolismo realmente importante aparece quando ele liga o sabre – e é o sabre Skywalker. Rey ofereceu o sabre para Luke diversas vezes no filme e ele recusou em todas. Simbolicamente, ele estava se recusando a aceitar quem ele e Rey eram como Skywalkers, mas agora o aceita completamente outra vez. Ao confrontar Kylo com ele, eles está dando a mensagem de que Rey não só vai continuar os Jedi, mas o futuro da familília está com ela, não com Kylo.

Um Excalibur

Uma cena icônica em O Despertar da Força envolvendo o sabre Skywalker é quando Kylo tenta atrair o sabre para ele e vemos o sabre tremer na neve assim como na caverna do Wampa em O Império Contra Ataca. No entanto, o sabre voa para as mãos de Rey. Os filmes de Star Wars também tiveram sua inspiração nas lendas do Rei Arthur e essa cena traz um paralelo claro à espada na rocha. Ninguém senão Arthur poderia tirar a espada da rocha com tanta facilidade pois ele era o verdadeiro herdeiro do trono. Rey pôde atrair o sabre para as mãos dela ao invés de Kylo por que ele não é um herdeiro digno, mas Rey sim. É importante frisar que o que fez Arthur ser o herdeiro legítimo não foi somente seu coração puro, mas o fato de que ele era o filho perdido do rei anterior, Uthur Pendragon. Esses paralelos querem nos dizer que Rey é mais digna de reivindicar o sabre e o legado Skywalker do que o neto de Darth Vader, provavelmente por que ela também é uma Skywalker.

Continuando esses paralelos temos a cena em Os Últimos Jedi onde Rey e Kylo, ao lutarem pelo sabre, acabam fazendo com que ele se parta. Isso simboliza a tensão crescente e a eminente destruição da família, enquanto o lado sombrio – a saber, o legado de Vader – se torna ascendente. Mas é Rey quem pode, no meio da aparente destruição, salvar o coração do legado da família e levar com ela pelo futuro. Em outras palavras, enquanto o legado Skywalker parece se equilibrar, Rey ainda é a mais digna de reivindicar o coração deste legado.

A quebra do sabre Skywalker em Os Últimos Jedi lembra outro caso de uma espada de família quebrada: Narsil em O Senhor dos Anéis. Nesta história, os elfos reforjam os fragmentos da espada Narsil, tornando-a na espada Anduril para Aragorn. O simbolismo em volta de reforjar as espadas é também similar. O ato de reforjar a espada simboliza abraçar o legado da família e assumir o dever que este legado propõe.

Agora compare isso com o simbolismo dos sabres de luz que Luke usa na Trilogia Original. Por todo Uma Nova Esperança O Império Contra-Ataca, Luke usa o sabre de luz do seu pai, simbolizando o quanto ele quer ser como seu pai. Ele o perde ao descobrir que Vader é quem é o seu pai. Ele então constrói um sabre que não se parece em nada com o de seu pai, nem em cor, nem em design (aliás, seu design se parece mais com o de Obi-Wan Kenobi). Isso simboliza o quão Luke foi forçado a forjar sua própria identidade independente de seu pai. Ele não quer mais ser como o pai, ele quer que o pai seja como ele. Para completar o treinamento Jedi, Rey vai ter que construir um sabre de luz sozinha. O interessante é que mesmo que o sabre Skywalker esteja quebrado, Rey ainda tem todas as peças. Isto é um forte indício de que o novo sabre de Rey vai ser o sabre Skywalker reforjado. Rey, ao reconstruir um sabre que tem conexões profundas com a família Skywalker, simbolizaria que ela abraçou completamente seu lugar na família.

Isolamento e Conexões

Desconectado de bem mais do que somente a Força

Luke se desconectando da Força é um segundo símolo do estado emocional de Luke. A Força em Star Wars, é associada com sentimentos: “Confie nos seus sentimentos,” “Alcance com seus sentimentos,” “Procure seus sentimentos,” etc. Luke se desconectou propositalmente da Força. Isso também significa que Luke se desconectou de suas emoções. O resultado? Rey não sentiu “nada [dele]” pois ele não se permite sentir nada dela e não permite que ela sinta alguma coisa dele. Rian inclusive considerou fazer Luke ser fisicamente cego no filme.

Reconexão repercutida

Aparentemente, a relação distante entre Rey e Luke se transforma em Crait. Quando Luke se torna um com a Força, Rey é a primeira a sentir, mesmo os dois nunca terem se conectado/comunicado pela Força antes. Ou sim? Alguns momentos antes, após Luke dizer “Eu não vou ser o último Jedi”, o filme corta para Rey olhando em volta como se ela estivesse sentindo a presença de alguém. Enquanto a resposta óbvia seria de que ela estivesse sentindo Finn, isso não cabe narrativamente. Primeiro, se Rey tivesse sentido a presença de Finn’s presence, ela já teria sentido quando foi para perto da caverna. Segundo, Rey parece estar surpresa e confusa por de onde a presença está vindo, olhando em volta para longe da caverna, que é aonde Finn está. Ela é na verdade distraída por Finn.

A única explicação possível pra essa reação é de que ela está sentindo uma conexão deliberada de Luke com ela. Isso é deliberado pela escolha de Johnson por cortar imediatamente para o rosto emocionado de Luke após ver Rey abraçar Finn. Essa conexão é mais uma demonstração do tema da reconexão entre membros de uma família, com o contato pela Força servindo como um símbolo de cura. Vimos Leia se conectar com Kylo de longe em seu ataque à Resistência, Luke se conectando com Leia ao meditar em Ahch-To, Rey e Kylo tocar mãos de pontos diferentes da galáxia, e agora Luke usando seus últimos suspiros para se reconectar com Rey. A Força – que corre nas veias dos Skywalkers – é capaz de reconectar uma família baqueada pelos acontecimentos. Assim como a conexão de Rey com Kylo, que é forte apesar de sua inimizade, a linhagem Skywalkers traz seus membros pra perto, mesmo quando eles parecem quebrados para sempre.

Significado das Mãos

Leia “O significado das mãos em O Despertar da Força para entender o contexto deste tópico.

Mãos têm sua própria linguagem nos filmes. Closes de mãos se tocando, ou quase se tocando, são muito usados pelos filmes, sempre entre personagens com laços fortes entre eles. Por exemplo, temos closes de Poe tocando na mão de Leia (entre figura materna e filho adotivo), Leia tocando na mão de Holdo (amigas desde a adolescência), Luke tocando a mão de Leia (irmãos gêmeos), e, é claro, Rey tocando a mão de Kylo (conectados pela Força e possíveis primos). Mas, ainda, vemos duas cenas em que a mão de Luke toca a de Rey e vice-versa: quando ela entrega o sabre a ele, e quando ele pressiona a a mão dela na rocha durante o treinamento. É importante frisar que, por todo o filme, esses dois personagens parecem não ter/desenvolver nenhuma conexão, e mesmo assim não temos só um, mas dois closes de suas mãos durante o filme.

A mão mecânica de Luke também simboliza sua decisão de se desconectar dos seus sentimentos. O livro cânon Legends of Luke Skywalker, ainda sem publicação no Brasil, ressalta que sua mão mecânica não “sente” nada. Sabemos pelo final de O Império Contra Ataca que a mão mecânica de Luke, quando há a presença da pele artificial, é capaz de sentir o toque e a dor. Luke poderia ter colocado uma pele nova, mas ele escolhe não fazê-lo. Isso simboliza o estado emocional de Luke. Ele escolhe deliberadamente não sentit. O interessante é que em Legends of Luke Skywalker, as únicas histórias que dão atenção a esse detalhe são histórias recentes na cronologia cânon, e elas mostram um Luke mais sombrio. Em Os Últimos Jedi, a mão de Luke é mostrada sem luva em apenas dois contextos: Quando Luke conhece Rey e nos flashbacks sobre a queda de Ben Solo para o Lado Sombrio. Isso é importante porque mostra que Luke não perdeu a pele da mão mecânica na noite da destruição de sua academia Jedi. Alguma coisa muito grave aconteceu antes disso a ponto de Luke não querer sentir sua mão de novo.

Uma melodia familiar

“Binary Sunset” é um dos temas musicais mais icônicos de Star Wars, perdendo apenas pra seu tema principal. Este tema sempre foi chamado também de “Luke’s Theme,” “Obi-Wan’s Theme,” e de “Force Theme,” mas é mais usado para indicar a presença da Força nas cenas em que aparece.

Como a família Skywalker a partir de Anakin descende da própria Força, “Binary Sunset” evoca, em padrão, a linhagem da família e sua significância espiritual e metafísico na galáxia. Na verdade, a melodia é usada em quase todas as cenas da saga onde Skywalkers têm interações importantes e emocionais entre eles, ou quando a conexão entre os Skywalkers é discutida ou implícita, especialmente por que isso se relaciona com suas próprias conexões com a Força. Aparece, em várias interpretações musicais: Depois que Luke encontra sua casa em chamas em Uma Nova Esperança, quando Luke decide buscar ser um Jedi como seu pai antes dele; quando Luke revela a Leia que são irmãos (servindo como fundo para a famosa fala de Luke “A Força é forte em minha família”), e quando Luke declara ser “Um Jedi, como meu pai antes de mim” na sala do trono do Imperador no clímax de O Retorno de Jedi, entre outros momentos. E quando isso aparece mais notavelmente na trilogia sequel? Em poucos exemplos: Quando o sabre Skywalker voa para Rey na Base Starkiller, quando Rey encontra Luke no final de O Despertar da Força… e quando Rey toca os dedos de Kylo em Os Últimos Jedi.

O uso dessa peça específica de música prova que Rian Johnson (e John Williams) estão querendo chamar a atenção não de uma possível conexão emocional/interpessoal entre Rey e Kylo, mas a um significado maior dessa conexão – uma que é tematicamente ligada às conexões familiares citadas acima. Se a cena fosse para ser romântica, faria mais sentido usar um “tema de amor” como de Han e Leia ou Anakin e Padmé. E se a cena fosse pra ser algo assustador, Williams teria usado notas da “The Imperial March” ou “Darth Plagueis the Wise” ou até mesmo o tema da Primeira Ordem pra indicar que a conexão é sinistra e perigosa. Ao invés disso, a escolha da música indica que a audiência deveria focar em como a conexão entre Rey e Kylo pela Força é forte, enquanto evoca a possibilidade de que essa conexão esteja ligada também ao sangue.

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Este dossiê é uma tradução livre da série “The TLJ Case for Rey Skywalker”, feita pelos fãs da Star Wars Shadow Council, que são responsáveis pelo maior banco de dados de eventos do cânon no Reddit, o r/StarWarsReference.