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Dossiê | Rey Skywalker em Os Últimos Jedi (Parte V) – Análise Narrativa

Este é o quinto post do nosso dossiê. Como toda teoria, leve isso como especulação, e antes de comentar sobre, defendendo ou atacando esta teoria, leia toda a matéria (e se possível, todo o dossiê) para não expressar opiniões equivocadas ou sem fundamento. Obviamente este post contém spoilers de Os Últimos Jedi, incluindo informações do Dicionário Visual.


Neste post vamos expandir a explicação das principais partes em Os Últimos Jedi que indicam que há alguma coisa acontecendo entre Luke, Rey e Kylo além da interpretação superficial do filme.

Motivações

“O que você tem de especial?”

Ironicamente, antes da estreia de Os Últimos Jedi, a inclusão da frase “Quem é você?” em um dos comerciais foi interpretado como se Luke não tivesse ideia de quem Rey é. Mas em contexto, esta frase dentro do diálogo pode significar o oposto. Luke repetidamente pergunta coisas sobre Rey –”Quem é você?” “Eles mandaram você?” “O que você tem de especial?”– em um tom que não é casual, simplesmente pra conhecer alguém. Luke está perguntando a Rey, seriamente e repetidamente, por que Leia mandaria ela, em particular, pra convencer Luke a retornar. (“Por que você está aqui?” Por que Rey em particular foi até Luke? Por que essa história é especificamente de Rey e não de outra pessoa?) Luke com certeza suspeita de alguma coisa. Leia, afinal, não expressou desejo de chamar Luke para recomeçar a Ordem Jedi; Ela simplesmente queria que ele voltasse para se juntar à Resistência. Na verdade, Luke estando em Ahch-To para treinar Rey somente iria atrasar seu retorno, então a ideia de que Leia enviou Rey pra aprender o caminho Jedi com Luke não bate com as situações dos personagens naquele momento.

Rey mesmo não pede pra Luke treiná-la antes que ele rejeite o convite pra sair de Ahch-To, então vemos que isso é um Plano B dela – Algo como “Se não vai ajudá-los, me ensine.” Então, temos esses fatos: Leia mandou uma garota que ela conheceu agora pra convencer Luke a voltar, e Luke está curioso o suficiente sobre isso pra perguntar a Rey, muitas vezes, por que ela é a pessoa que Leia achou que poderia trazê-lo de volta, a ponto de não deixar Rey fugir desse assunto.

Luke não só pergunta por que Rey está lá (ao qual ela responde que é por conta de suas habilidades com a Força), ele está perguntando sobre quem ela é e por que é tão relevante que ela, dentre bilhões de criaturas sensitivas na galáxia, vá até ele. E ainda, ouvimos Luke chamar Rey pelo seu nome, antes que ela. Isso significa que Luke já sabe “quem ela é”, e essas questões querem saber especificamente quem ela é em relação a ele. Isso só faz sentido se Luke tem razões pra acreditar que há somente uma pessoa cuja identidade o convenceria a voltar, e que Rey poderia ser essa pessoa.

Quando Luke finalmente ouve a resposta de Rey, ou seja, por que ela acha que está em Ahch-To, ele muda a conversa. Ao invés de confirmar o que ela realmente está buscando (uma direção e um guia), ele diz que ela quer ser uma Jedi e usa isso pra terminar a conversa de forma brusca.

Pela nossa interpretação, Luke sabe ou suspeita fortemente de quem ela é, mas agora ele está preocupado com o quanto ela sabe e  se ela vai perceber isso estando na ilha. Então, não é suficiente que ele a ignore, mas faça de tudo pra que ela saia o mais rápido possível. Assim, depois de confirmar que ela não sabe muito sobre si mesma, ele reinterpreta o que ela sente que precisa e diz a Rey que ele não vai entregar o que ela procura.

A indiferença de Luke

Muito se fala sobre como Luke está diferente comparado ao final de O Retorno de Jedi ou o resto do Canon. Mesmo assim, as maiores diferenças estão em Os Últimos Jedi. Quando Luke e Rey se conhecem em O Despertar da Força, ele olha pra ela com uma expressão triste (é importante frisar que Os Últimos Jedi toma cuidado pra não mostrar as expressões de Luke até depois da entrega do sabre) e quando ela dá o sabre a Luke em Os Últimos Jedi, ele o aceita inicialmente.

Como todos sabem, ele joga o sabre pra cima e vai embora. No entanto, ele olha pro sabre e pra Rey por muitos segundos antes de realmente jogar o sabre. Deste ponto em diante Luke trata Rey com indiferença, e mesmo assim não tem problemas em falar com Chewie e notavelmente se comporta como o Luke da Trilogia Original quando está a sós com R2-D2 – longe de Rey. A mudança de atitude combinada com a demora na decisão de jogar o sabre fora sugere que havia algo sobre Rey que Luke teve que decidir. Muitos dizem que foi porque Rey veio entregar o sabre pra chamar ele de volta à Resistência, mas ainda assim Chewie e R2-D2 estão lá pelo mesmo motivo e Luke age normalmente com eles. R2-D2 provavelmente pergunta a ele sobre isso (usando palavras de baixo calão inclusive). E não porque Rey é uma possível padawan, já que isso não está em pauta até a Força guiá-la até a árvore. A resposta para o comportamento de Luke vem por conta de algo sobre Rey.

Enquanto muitos falam nela como uma estranha, o pânico e a preocupação de Luke com Rey quando vê a conexão dela com Kylo sugere que isso é algo mais profundo. E particularmente porque, quando ele percebe que ela não está em perigo imediato, ele volta à sua atitude de indiferença com ela, inclusive com falhas, como mostrado na nossa análise do filme.

A necessidade na frente de Luke

Assim como “retornar” foi algo principal em O Despertar da Força, Os Últimos Jedi foca no conceito do que cada personagem, especificamente Rey, “precisa”. Há uma diferença entre o que Rey diz que a galáxia precisa e o que ela diz que precisa de Luke. A galáxia, segundo Rey, precisa de “Luke Skywalker”,  precisa da volta da Ordem Jedi, precisa de uma “lenda”. Do que Rey precisa? “De alguém pra mostrar meu lugar nisso tudo”.

Há um contraste imenso entre a necessidade simbólica da galáxia como um todo e a necessidade extremamente pessoal de Rey sobre encontrar um lugar e uma identidade na sua própria história. Rey achava que Luke poderia mostrar esse lugar a ela; enquanto sendo filha de “ninguém”, segundo Kylo, “prova” que ela não tem lugar nessa história a não ser que ela dependa dele pra isso. Mesmo falsa, essa afirmativa toca Rey profundamente, indicando que ela sente que se ela soubesse quem seus pais eram, isso a daria “lugar” – o mesmo “lugar” que ela pediu que Luke a mostrasse. A necessidade de Rey por sua família é tão proeminente que tanto Kylo e Luke percebem e referenciam – Kylo dizendo que estar “precisando” dos pais é a “maior fraqueza” dela, e Luke dizendo a Rey que a caverna (onde ela pediu para ver os pais) “ofereceu [a ela] algo que [ela] precisava”.

Entre as referências das necessidades de Rey, percebemos uma conexão entre Luke, Rey, pais e “tendo um lugar” no mundo. Este ponto volta quando Yoda afirma a Luke que seu foco nos elementos escolares dos Jedi (os textos sagrados) ele perdeu “a necessidade na frente de seu nariz”. Luke disse a Rey que ela precisava de um professor, mas Yoda diz a ele que Rey já tem tudo o que ela precisa para entender o caminho Jedi – que Luke não deu o que ela realmente precisava dele. Para isso, Luke responde com o que possivelmente é a linha de diálogo mais paternal do filme: “Não posso ser o que ela precisa que eu seja”. Ele não disse “Eu não posso ser o que a galáxia precisa que eu seja”, ou “Eu não posso fazer o que ela/eles querem que eu faça”. Rey precisa algo de Luke que ela não vai conseguir estudando os textos Jedi: Ela precisa do pai dela.

As intenções ocultas de Kylo

Muitos comentam sobre o que Rian Johnson disse sobre Kylo não estar estritamente e/ou propositalmente mentindo sobre o que ele viu na mente de Rey quando ele falou que seus pais eram “ninguém”. Mas ele também disse que Kylo quis usar o que ele viu para enfraquecer Rey, pra fazê-la se sentir fútil e assim ela se juntaria a ele. Isso é apoiado por uma linha de diálogo em uma das conexões entre Rey e Kylo, onde ele diz a ela que seus pais “a jogaram fora como lixo”, muito antes de eles tocarem mãos. (Note que não há nenhuma indicação em O Despertar da Força de que Kylo viu algo sobre os pais da Rey na mente dela. De fato, a linha “Han Solo… Você sente que ele é o pai que você nunca teve” é até meio estranho se Kylo viu memórias dos pais da Rey a abandonando). Pelo que Rian disse sobre as motivações de Kylo na sala do trono de Snoke, essa linha inicial indica que ele começou a tentar manipular Rey emocionalmente com esse assunto mesmo antes que ele tivesse alguma ideia da verdade.

Kylo sabe que a espera de Rey por seus pais é a sua fraqueza (Ele até diz isso com todas as palavras), e daí por diante, vemos que Kylo acredita que é melhor que Rey ache que seus pais estão mortos, que eles nunca a amaram, e que ela está completamente sozinha no mundo. Não sabemos se o que ele falou sobre a jogarem fora como um “lixo” era uma mentira, ou algo que ele acreditava ser a verdade por qualquer razão, mas ele disse isso para Rey sabendo que assim estaria lançando dúvidas na mente dela.

Diferente da cena do flashback sobre Luke e Kylo (e do forceback em O Despertar da Força), a audiência não vê o que Rey e Kylo viram quando tocaram mãos. Pode ser que Kylo viu exatamente o que disse que viu. No entanto, muitas cenas antes, vimos que o que Kylo viu no flashback do quarto não era totalmente verdade. E mesmo assim Kylo não estava necessariamente mentindo pra Rey; então a cena do quarto pode ter sido o que ele viu, mas sua percepção estava simplesmente prejudicada, nublada pelo Lado Sombrio ou pelo que ele esperava ver. Então, isso pode significar que o que Kylo disse a Rey sobre seus pais não seja a verdade completa. (Uma narrativa nunca põe dúvida na credibilidade de um personagem principal explicitamente). E, mentira ou não, essa informação, obtida em um momento de conexão emocional genuína, foi usada por Kylo pra tirar vantagem do que ele mesmo chamou de “a maior fraqueza” para tentar fazê-la se juntar a ele. Ele faz exatamente o que Snoke fez para Hux e para ele mesmo – manipular a fraqueza do “cão sarnento” para usar como uma “ferramenta poderosa.”

É importante considerar também que o que Rey viu quando tocou a mão de Kylo estava incompleto e fora de contexro. Ela viu Kylo não se curvando a Snoke e acreditou de todo o coração que se ela fosse até ele, ele voltaria pra luz. Ela não estava mentindo quando ela diz isso porque ela honestamente acredita que isso é a verdade. No entanto, depois da luta na sala do trono, aprendemos que o que Rey acreditou tão firmemente não era objetivamente a verdade. Kylo se vira contra Snoke, mas não retorna à luz quando Rey vai até ele, pelo contrário, faz de tudo para fazê-la acreditar que o lugar dela é ao seu lado no Lado Sombrio. Então se o que Rey viu não era uma verdade completa, por que deveria alguém acreditar que o que Kylo viu era?

O verdadeiro significado de ser um “ninguém”

Um dos momentos mais esquisitos em relação à caracterização de Rey em Os Ultímos Jedi ocorre quando Rey, cujo objetivo prévio era somente uma reunião com sua família, de repente se preocupa com quem são seus pais – especificamente, como se eles não fossem “ninguém.” Isso pode não ter chamado tanta atenção pra quem está acostumado a ouvir que os pais dela poderiam ser “ninguém,” mas não faz sentido que Rey de repente se preocupe com isso, a não ser que ela esteja esperando que sua família fosse “importante” (quais famílias “importantes” existem no universo de Star Wars?) ou que fosse “alguém” específico. Ela também parece ter uma visão contraditória dos seus pais quando ela fala com Kylo. Ela discorda de forma veemente com a afirmação de que os pais dela a abandonaram, mas também se esvai em lágrimas quando o confronta sobre matar o pai que o “amou” e “se importou” com ele. Você pode dizer que Rey não acredita que seus pais a abandonaram, mas não podemos negar que ela sente que ela não tem um pai (especificamente um pai) que a amou ou se importou com ela.

O comportamento de Luke quanto a ela em Ahch-To iria resolver esses sentimentos aparentemente contraditórios – ela não acredita que foi abandonada intencionalmente, mas ela sente que o homem que ela acredita ser seu pai não se importa mais com ela. É implícito em algumas partes do filme que Rey suspeita que Luke possa ser seu pai, mais notavelmente quando Kylo diz que ela estaria procurando um “pai” em Luke (com nenhuma evidência explícita do porquê isto seria o caso). Mas essa mudança repentina nos desejos de Rey – uma necessidade por saber quem são seus pais, e se eles são “alguém importante” – é quase inexplicável a não ser que a gente assuma que Rey acha ou espera que Luke Skywalker seja seu pai.

Relacionamentos

Uma conexão misteriosa

A explicação ostensiva sobre a “misteriosa conexão” entre Rey e Kylo foi dada em Os Últimos Jedi, quando Snoke reivindica a criação dessa conexão com o único objetivo de encontrar Luke Skywalker. No entanto, essa explicação parece ser falsa por muitos motivos. Primeiro, os dois compartilham uma última conexão depois de Snoke já estar morto, deixando implícito que essa conexão está firmada em outra coisa que não são os poderes de Snoke. Segundo, Kylo referencia essa conexão estranha com Rey quando eles estão na sala de interrogatório em O Despertar da Força –“Não tenha medo, eu também sinto.” Então aparentemente ambos têm uma conexão já existente, antes mesmo de se “conhecerem”.

Essa conexão é também “misteriosa,” indicando que não é (como muitos dizem) algo vindo de uma atração amorosa. O fato de que eles se conhecem em uma situação hostil também indica que a conexão é algo que transcende seus sentimentos pessoais (negativos) entre os dois. Algo conecta-os organicamente, antes que eles se conheçam, de maneira que nem eles entendem. Se os dois são parentes, essa conexão seria explicada – eles estão intrinsecamente ligados pelo sangue. É “misterioso” porque nenhum dos dois encontrou um membro perdido da família antes, e não entendem o porquê de sentirem essa conexão com um suposto estranho.

Não é de se estranhar que muitos pensem em um relacionamento amoroso entre os dois. Luke mesmo confundiu sua conexão com Leia com uma paixão. A conexão entre Kylo e Rey também acompanha o que vimos na nossa análise temática sobre devolver os relacionamentos entre familiares, já que essa conexão existe sem se importar com o antagonismo entre os dois, e pode aparecer até em situações constrangedoras (vide Kylo sem camisa). Como em muitos pontos, Rey sendo uma Skywalker é a explicação mais simples e mais satisfatória tematicamente para essas questões.

Iguais na Luz e na Escuridão

O filme oferece uma vaga descrição do significado dos poderes de Rey – a saber, que ela é “igual” a Kylo, só que “na luz,” destinada a se erguer e confrontá-lo conforme ele cresce mais poderoso no Lado Sombrio – mas não oferece nenhuma explicação satisfatória de porque Rey, dentre todas as pessoas, foi a escolhida para contrabalanceá-lo. Se a mecânica de serem “iguais na Força” é simplesmente  a Força criando uma pessoa, do nada, para contrabalancear outra pessoa, por que Rey só nasceu quando Kylo estava com 10 anos de idade? De acordo com Yoda, o futuro está sempre em movimento – então se a queda de Kylo tivesse culminado aos seus 20 anos ao invés dos 30, seria Rey, mesmo pré-adolescente, que o derrotaria? Esse fenômeno sempre existiu no universo Star Wars? Então Anakin foi concebido para contrabalancear Darth Sidious? E quando ele já havia se transformado em Vader, ele tinha uma oposição na Luz também? Era Luke? Se sim, foi só uma coincidência serem pai e filho? Por que Luke teria dois opostos, um em Anakin e outro em Kylo? Kylo era a oposição de Luke, mas Luke não era a oposição de Kylo?

A resposta pra essas questões mora em quando Snoke disse que assumiu que quem seria o “igual” a Kylo na luz seria “Skywalker.” Isso se refere à afirmativa no Dicionário Visual de que Snoke acreditava que só algum dos parentes de Luke poderia matá-lo. Alguém pode dizer que Snoke acreditou nisso, em parte, pelo fato de que ambos vieram da mesma família. Se Rey realmente é uma “ninguém”, essa afirmação sobre serem “iguais” traz mais questões do que respostas. Mas se Rey é uma Skywalker, a situação inteira é destilada em um twist simples mas genial: “Skywalker” é equivalente a Kylo na Luz, assim como Snoke previu. Só foi um Skywalker diferente.

Todas as contradições acima podem ser explicadas mais facilmente: Eles são opostamente iguais pois são dois descendentes da criança da Força, Anakin. Não há a necessidade de explicar o funcionamento do fenômeno, já que isso segue a narrativa dos 6 filmes anteriores e seria intuitivo para os fãs. Snoke sabe que Kylo tem um igual na Luz que está crescendo em poder, e essa pessoa é Rey. Rey compartilha o poder de Kylo porque ambos são a incorporação da constante do avô de ambos: Um conflito interno igualmente oposto. Essa foi a “igualdade” que Snoke percebeu na Força, e (novamente) ao provar isso sem nem saber de sua descendência, Rey demonstra que ser uma Skywalker é mais do que simplesmente sangue – é sobre caráter e espírito.

Paz e Propósito

As leis de conexões e comunicações pela Força no universo Star Wars são inconsistentes, no mínimo. No entanto, é bem evidente que para se conectar com outro ser pela Força requere alguma intimidade prévia, ou uma canalização deliberada – senão, ser um usuário da Força poderia significar ser bombardeado com pensamentos e sentimentos de todos à sua volta. Vemos pela primeira vez essa habilidade em Uma Nova Esperança, quando Vader percebe que Obi-Wan retornou depois de muitos anos (também indicando que a proximidade física é melhor percebida pelos usuários da Força do que seus pensamentos e emoções). Conexões diretas à distância (Portanto, diferentes de catástrofes em massa como a destruição de Alderaan) são limitadas quase inteiramente entre cônjuges e membros da família – Luke com Leia e Vader (inclusive com uma conexão quase idêntica a de Rey e Kylo) em O Império Contra Ataca, Leia com Han em O Despertar da Força, e Leia com Kylo em Os Últimos Jedi. Então como Rey, uma garota que conheceu Luke há somente dias/horas antes do confronto em Crait, percebe não só sua morte, mas as emoções exatas dele enquanto se tornava um com a Força de uma distância considerável? Será isso fruto uma escrita preguiçosa, ou algo mais?

Coesão para o enredo

Sonhos com a ilha

Aprendemos em O Despertar da Força – e somos lembrados em Os Últimos Jedi – que Rey tinha visões de Ahch-To antes mesmo de deixar Jakku. Faria sentido para Rey ser de alguma forma atraída para Ahch-To se sua presença lá terminasse sendo crucial para seu arco narrativo, mas no fim do filme, a única coisa concreta que ela conseguiu lá foi resgatar os textos Jedi. Sabemos que ela nunca tinha estado lá fisicamente, somente “em sonhos.” Você pode dizer que ela estava lá pra inspirar Luke a voltar à luta, mas é Yoda quem o convence, não Rey. Dizer que ela estaria lá pra entrar na caverna de espelhos seria decepcionante, dado quão fútil essa experiência terminou sendo. E dizer que é simplesmente uma premonição é uma explicação aceitável mas emocionalmente frustrante.

Por que Rey tem sonhos tão vívidos daquele lugar específico, sendo que pouco aparentemente acontece ali? Parece que, se Rey nunca tivesse ido a Ahch-To, Yoda poderia assim mesmo ter aparecido e convencido Luke a se projetar em Crait, dizer a Rey, “Vá pra Ahch-To e pegue os textos Jedi,” lutar contra Kylo, e se tornar um com a Força, e assim daria no mesmo.

A única coisa, tanto narrativamente quanto dentro do universo, que explicaria as visões de Rey, seria uma conexão pessoal com Ahch-To, algo significativo que está estimulando essa visão. Quais foram as outras vezes em que um personagem na saga Skywalker teve uma visão sobre um planeta distante? Em O Império Contra-Ataca, Luke, vê “uma cidade nas nuvens,” sente que Han e Leia estão lá e em perigo e vai até eles. E em Ataque dos Clones, Anakin, tendo sonhos que sua mãe está em perigo e sofrendo, retorna a Tatooine em uma tentativa desesperada de salvá-la. Dado estes precedentes, e a falta de uma explicação alternativa satisfatória, é razoável acreditar que as visões de Rey sobre a ilha estavam de alguma forma ligadas ao único humano vivendo lá: Luke.

O sabre Skywalker, revisitado

Uma das evidências mais fortes de Rey Skywalker em O Despertar da Força é a cena em que o sabre Skywalker chama Rey e mostra a ela uma visão que conecta o passado dela com o passado de Luke. Céticos argumentam que o sabre estava chamando Rey porque era seu destino entregá-lo a Luke. Mas Os Últimos Jedi destrói essa teoria – Luke rejeita o sabre e isso termina onde começou, nas mãos de Rey. Se o sabre a chamou por causa do “destino,” então esse destino é evidentemente para Rey mesma usá-lo. Por que este sabre, de todos os sabres de luz, chamou Rey, de todas as pessoas? Ou este sabre tem um apego especial por Rey, maior do que com Kylo (como a conexão de uma filha é maior que a de um sobrinho), ou então Rey é de alguma forma destinada a ser a dona do sabre Skywalker. Em ambos os casos, o epílogo de Os Últimos Jedi nos mostrou que Rey não é a única sensitiva à Força na galáxia – então sua reivindicação deve ser por um motivo bem maior.

Em Os Últimos Jedi vemos outra competição sobre o sabre, mas desta vez com Rey e Kylo em lados opostos, e terminam dividindo o sabre, indicando que a Força os considera com igual reivindicação. Por que Kylo poderia reivindicar o sabre, se a Força escolheu Rey para ser a campeã da Luz e não liga para a descendência? E invertendo, como Rey pode reivindicar o sabre, se ela não é uma Skywalker?

Fraqueza e manipulação

As primeiras frases de Snoke para Kylo incluíam a frase “a fraqueza de um cão, manipulada apropriadamente, pode ser uma ferramenta poderosa.” Apesar deste sentimento ser direcionado a Hux, não está claro qual é a suposta “fraqueza” dele, nem este tema aparece no arco dele. Então, não há dúvidas de que esta linha de diálogo foi incluída por outra razão, e que deve refletir outra parte da história.

Então, horas depois, Snoke diz que conectou as mentes de Rey e Kylo para manipular Rey e conseguir a localização de Luke Skywalker. E o que Kylo diz a Rey em uma das suas primeiras conexões? Que a necessidade dela por seus pais é sua “maior fraqueza.” Ele adiciona, nessa cena, que os pais dela a “jogaram fora como lixo.” Se Kylo não está deliberadamente usando os pais da Rey para manipular e explorar sua fraqueza, a fala de Snoke no começo do filme não serve de nada à história. Assim, a inclusão dessa fala sugere que Kylo que está investindo pesado em convencer Rey de que seus pais se foram pra sempre, então ele pode manipulá-la ao ponto de que ela faça o que ele quer. Não importa o cenário que ele veja na mente dela, é de seu maior interesse interpretá-lo de forma que isso suporte o argumento de que ela não é nada e nem “ninguém,” assim como Snoke o ensinou. Então por que Rey, ou a audiência, deveria acreditar em uma palavra que ele diga sobre quem ela é e de onde ela veio?

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Este dossiê é uma tradução livre da série “The TLJ Case for Rey Skywalker”, feita pelos fãs da Star Wars Shadow Council, que são responsáveis pelo maior banco de dados de eventos do cânon no Reddit, o r/StarWarsReference.