Fanfic | SOLO por Jack Allek (Terceira Parte)
Parte 3
A conversa com Ackbar foi rápida e os preparativos para a saída mais ainda. Quando ele o avisou mais cedo naquele dia que teriam uma reunião de emergência e que precisava descer o mais rápido possível, Han, já prevendo o resultado da reunião, arrumou tudo que precisava para viajar e em cinco minutos estava entrando no hangar. Demoraria ainda menos se não tivesse parado no caminho para a porta para tirar um biscoito meio comido da mão de Ben e afagar seus cabelos enquanto ele dormia.
Desde que nasceu, há pouco mais de dois anos, Ben era capaz de impressionar o pai de inúmeras maneiras. O reflexo das luzes em seus olhos, o som agudo mas agradável da sua risada, as palavras que aprendia diariamente e o modo errado em que as pronunciava, a expressão serena que tinha todas as vezes que dormia. Han sabia que se fosse flagrado em seu sono, ele estaria no mínimo todo torto e com sua boca aberta. Mas Ben não. Em todos os momentos em que o olhava dormindo, ele estava com aquele ar sereno, pronto para ser olhado. Han pensou nisso naquela manhã enquanto ajeitava suas cobertas. Agora, ali no hangar, enquanto Leia debatia com Ackbar os detalhes da última reunião, ele pensou quando poderia passear com seu filho novamente, agora que Leia já sabia de suas incursões secretas. Decidiu que seria assim que voltasse de Yavin, afinal, Leia podia ser a mãe, mas ele era pai. Sabia cuidar dele e, principalmente, protegê-lo melhor do que qualquer um em todo universo.
Han, Leia e Ackbar andavam decididos para o setor Leste do hangar de embarque, onde mantinham estacionada a Discovery.
Mas havia algo errado. Os instintos de Han, lapidados por décadas de inúmeras emboscadas pela galáxia, gritaram assim que a nave entrou em seu campo de visão. Era um sentimento pequeno e irracional, mas que estava ali, como um gundark, aguardando nas sombras o melhor momento de atacá-lo.
Com uma análise mais detalhada percebeu aquilo que o deixara intrigado.
A porta estava entreaberta. Pensou em todas as mínimas chances de serem atacados ali, com soldados, armamentos, generais e líderes suficientes para iniciar uma verdadeira guerra e rapidamente deixou suas preocupações de lado. Lembrou de seu cochilo acidental e amaldiçoou novamente seu cansaço. Han sabia que este tipo de desatenção cobrava caro em momentos decisivos e decidiu não dizer uma palavra com Leia sobre isso. Embora ela pensasse que esta missão era mais do que aparentava, ele sabia que seria apenas outra entediante e infrutífera viagem de rotina. Ela já tinha problemas demais sem Han contribuindo com suas preocupações.
Enquanto chegavam ao destino, Han deu mais uma boa olhada na nave. Confiscada de um grupo de simpatizantes imperiais pouco após a Batalha de Jakku. Era conhecida na época por Shadow Crawler. O nome inspirava medo e com razão. Originalmente, o modelo JKA 2810 foi uma tentativa mal sucedida da Kuat Systems Engineering, um braço da Kuat Drive Yards, em diversificar seu portfólio militar após o fim das Guerras Clônicas. Usando como base alguns caças republicanos, a ideia central da empresa era produzir naves compactas, com maior nível de conforto, que pudessem ser usadas como transporte local mas também servissem para longas viagens. Com hiperpropulsor de fábrica, acomodações agradáveis, duas camas macias e uma pequena cozinha própria, o modelo tinha tudo para ser um estrondoso sucesso de vendas por toda galáxia, se não fosse a crescente demanda do Império por novas naves bélicas e armas de dominação. O projeto foi totalmente abandonado após algumas dezenas de unidades o que as deixou bastante valiosas no mercado negro. Quem possuía uma JKA tinha duas coisas com toda a certeza: Muitos créditos nas mãos caso quisesse vendê-la ou um alvo em sua cabeça caso não.
Por incrível que pareça, a Shadow Crawler era ainda melhor. Um sistema de armas totalmente modificado a transformaram em um perigo para quem quer que entrasse em seu caminho. Com um par de canhões laser, porta-mísseis de concussão e dois canhões de íons secundários, a nave ainda contava com um potente blaster de defesa em solo e um escudo defletor muito além do padrão de fábrica. Mas era outra coisa que chamava a atenção à primeira vista. Ao contrário do cinza claro que eram fabricadas, a nave foi apreendida com uma pintura inteiramente preta. De acordo com os relatórios encontrados em seu próprio computador central, a cor ajudava a camuflá-la no escuro do espaço.
O passado da Shadow Crawler foi obviamente investigado quando confiscada pela Nova República e descobriram que ela era bem famosa por onde passava. Claro que nunca de uma maneira honesta. Mesmo com sua pequena fama, após o quarto dono anterior aos simpatizantes do Império que a obtinham por último, as pistas ficavam confusas e esfriavam. A cúpula da Nova República decidiu então que ela era muito rara e excepcional para não ser usada a seu favor, mas com medo de seu passado duvidoso, rebatizaram a nave e resolveram aplicá-la apenas em casos menores que requeressem discrição e eficiência.
“Como esse.” pensou Han voltando à realidade e percebendo que Leia e Gial tinham encerrado sua discussão.
— Aqui está, General. — disse Ackbar estendendo um objeto para Han. — Todos os dados que precisa saber sobre a missão estão neste datapad. Creio que não terá dificuldade alguma em acessá-los pelo computador da Discovery.
— Sim. Já estou familiarizado com ele. — disse Han arrependendo-se logo em seguida ao ver o olhar acusador de Leia. Ela resolveu não recomeçar sua discussão.
Chegou perto dele e o abraçou com força. Ackbar, sempre discreto, fingiu interesse em uma nave próxima e saiu lentamente para olhá-la mais de perto.
— Tome cuidado, Han. Quero você de volta inteiro. — Leia o encarou com sorriso nos olhos. — Combinado?
Deu um rápido beijo nele, preocupada em conferir se Ackbar ainda estava olhando para outro lado, e já ia se afastando quando Han a segurou forte.
— Cuidado é meu segundo nome, querida. — comentou dando um beijo apaixonado enquanto sabia que Leia corava. — Volto logo.
Han terminou de abrir a porta da nave e entrou, não sem antes dar uma última olhada para trás e ver Leia se afastando com Ackbar, já envolvida em outra conversa de extrema importância com certeza. Entrou na cabine, deu início ao procedimento de decolagem e abriu um canal de comunicação.
— Discovery para Controle. Aqui é Solo pedindo permissão para decolar. Câmbio.
— Controle para Discovery. — Han podia sentir a admiração na voz do jovem técnico. Colocou o datapad no computador da nave e acessou as informações básicas da missão. A voz do rapaz soou orgulhosa no auto-falante mais uma vez. — Ótimo dia pra voar, General. Prossiga, por favor.
— Protocolo da missão número: 881247A-4. — Continuou Han lendo os dados na tela do painel — Destino: Confidencial.
Houve um momento de silêncio para a conferência de dados.
— Prossiga com a decolagem, General. Boa sorte.
Solo checou todos os sistemas a bordo e após a confirmação positiva no console, decolou com um leve tremor da nave.
Mesmo a Discovery sendo projetada para ser comandada sem a ajuda de um co-piloto, Han olhou para o assento secundário vazio ao seu lado na cabine. Sentia falta de Chewie nessas horas, em que o barulho do motor aumentava gradualmente e a nave levantava poucos metros do chão. Era o chamado da aventura e o Wookiee estava sempre por perto.
A nave voou baixo até a saída do hangar e Han enfim pode aumentou sua velocidade.
— Fazendo os cálculos para a velocidade da luz. — disse Han para si mesmo enquanto apertava os botões no painel. No momento que as palavras saíram de sua boca, ele percebeu como soaram ridículas estando sozinho. Continuou mesmo assim. — Sistema Yavin, aí vou eu.
Ele empurrou a alavanca e sentiu o familiar frio no estômago quando as estrelas riscaram a vigia de transparaço da cabine e a Discovery entrou no hiperespaço.
Han deixou-se aproveitar o momento e fechou os olhos, relaxado. Deve ter cochilado um pouco pois sobressaltou-se quando um canal de comunicação começou a apitar insistente no painel. Alguém queria falar com ele.
Espreguiçando, riu com a ideia de não atender e deixar aquela luz vermelha piscar mais um pouco enquanto continuava seu descanso.
Mas um barulho na cozinha da nave arrasou qualquer resquício de sono do corpo de Han. Instantaneamente alerta, ele levantou devagar, colocou a mão na pistola de raios em sua cintura e olhou pelo corredor que dava para a cozinha. A luz estava acesa. Lembrou-se da porta da nave aberta no hangar e seu medo de um ataque, agora não parecia tão infundado assim. Ele não estava sozinho.
Imaginou se o intruso tinha ouvido o baixo alarme do canal de comunicação e se o súbito contato teria algo a ver com isso. Decidiu ignorar a chamada e torcer para o invasor pensar que ainda estava dormindo. Aproximou-se devagar do corredor que dava para a porta da cozinha aberta, tão silencioso como uma pantera da areia e tirou a pistola do coldre.
De onde estava não conseguia ver toda a cozinha, mas sabia que quem quer que estivesse ali estava fazendo um excelente trabalho ao se esconder em um lugar tão apertado. Pela experiência, Han sabia que atos desesperados assim só tornavam o intruso ainda mais perigoso. Ele prendia a respiração enquanto se aproximava.
— Han, você está me ouvindo??
O coração de Solo gelou quando a voz de Leia surgiu de repente no comunicador logo atrás dele na cabine. Recuperando do susto soltou o ar lentamente pela boca silenciosamente.
Han havia se esquecido que a trava de segurança no sistema de comunicações da Discovery abria o canal automaticamente após um tempo de chamada se um canal pré programado estivesse do outro lado. Esse canal era obviamente sua base, a fragata Mon Calamari que acabara de deixar.
— Preciso que você volte imediatamente. — Algo na voz de Leia fez os cabelos de sua nuca arrepiarem — É o Ben, Han! Alguém sequestrou o Ben!!
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