Artigo | A conscientização na luta contra o ódio banal
Desde as polarizações causadas pelos recentes momentos políticos acontecidos no Brasil, nota-se um estranho comportamento nas pessoas, a de escolher um dos extremos de uma situação e isso não ficou mais na esfera política, ela extrapola novas barreiras e atingiu algo que deveria ser a linha de limite nas pessoas: o gosto alheio.
Já foi lido em outras páginas de Star Wars que existe um costume pedante das pessoas a expressarem o ódio às prequelas de Star Wars com teorias reducionistas e o que a pessoa não pensa quando escreve isso é:
Ao impor aos outros uma opinião de qualidade, estamos ferindo duas éticas. A primeira ética é a nossa. Temos gabarito pra dizer que não presta? Temos bagagem pra dizer que são ruins? Se dissermos, estamos preparados pelas respostas que virão contra e que muitas vezes acompanhadas de uma argumentação de defesa e conhecimento de causa?
A segunda ética quebrada é a de que muitas pessoas vieram fazer parte do fandom de Star Wars depois de assistirem exatamente aos episódios da prequela. Sendo assim, cabe a nós sermos juízes de condenar a qualidade destes filmes, mesmo que os tais tenham sido o motivo de imersão de novas pessoas que vieram se aplicar no amor à série?
Ao ler estas palavras me lembro de inúmeras vezes que tentamos defender os filmes ou levantar o que se aproveita dos mesmos e surgem pessoas que também reagem com extremismos: “Agora sou obrigado a gostar dos filmes” – BINGO. Aí está a chave de amenizar discussões acerca da série. Chegamos ao capítulo central: o gosto.
Dificilmente se consegue algum tipo de reação à pessoa que escreve “Eu não gosto do filme” ou “Eu não gosto das prequelas”. Frases como essa levam no máximo a algum tipo de contraproposta: poxa, mas a coreografia das lutas de sabres? A liberdade maior de John Williams nas trilhas? A quantidade de homenagens? E quando isso acontece, os debates caminham sozinho dentro de grande respeito e fazem com que as pages e seus moderadores se envolvam contribuindo com o que há de melhor e pior a serem aproveitados.
Não gostar é um direito de cada um, e dificilmente as pessoas, moderadores e administradores de página e conteúdo vão forçar goela abaixo nossa opinião; dizer que é ruim, uma bosta, não presta, abre portas para os defensores se posicionem a ter uma resposta branda, às vezes dura e raríssimas vezes mais dura do que o que comete o delito de em sua resposta, carregue um tom ofensivo aos defensores daquela obra.
O texto aqui segue mais uma linha de como o criador de conteúdo é uma figura preocupada muito mais em propagar o amor por Star Wars desde a peça mais falha até a obra mais ovacionada por público e crítica e torcemos sempre que as peças midiáticas atinjam este grau de recepção por parte do público.
Infelizmente, alguns fãs de Star Wars desvinculam a importância da saga no âmbito cultural e acha que pode separar o fenômeno que a saga tem da arte cinematográfica. Isso não dá certo. A obra se utiliza deste meio, o cinema que é o pai destas outras mídias que a Disney assumiu a chancela. Depois do cinema, todas outras obras vieram como suporte para compreensão das complexidades dos personagens, da política, da força e assim, do nosso amor pelo folclore que a obra nos alimenta.
Todas obras geradas com o nome de Star Wars tem um tempo contínuo correndo e nele se pode fazer vários recortes para entender a história de cada um dos personagens e em qual política estavam inseridos, afinal, se falamos de Star Wars, mais precisamente de Guerra nas Estrelas, a palavra guerra já assume por natureza a participação de política no meio e precisamos, assim, compreender que em toda saga alguém iria trazer consigo todo um background justificando seu comportamento.
Mas pulando do âmbito diegético de cinema para o campo de produção, outro momento peculiar em que a página teve de lidar com o fã “armado” de conceitos que necessitam ser revistos foi na postagem da página irmã “Jedicenter” na qual ela publica o boato da possibilidade de Hayden Cristensen voltar a trajar o figurino do Lorde Vader.
Inúmeros fãs lembraram um dos capítulos mais revisitados do que apelidamos do “guia prático do hater”, na qual Hayden é “um ator muito ruim” e que “tomara que nunca volte”.
Cabe aqui novamente um recorte do momento para compreender como um todo o caminho desta crítica e assim iremos numa análise afundo na questão deste problema. Oras, se George Lucas é famoso por não saber fazer a direção de atores, temos aí não o problema de que o ator mereça uma rejeição sem sentido. Já é fato que Lucas sempre escolheu atores desconhecidos para serem protagonistas de seus filmes, Mark Hamill foi o mesmo caso e na época também sofreu severas críticas pelo seu desempenho.
Aí entra nossa observação de que muitos não devem responder pelo ator se só viram a atuação de Star Wars. Antes do Star Wars Episódio II: O Ataque dos Clones, Christensen já havia atuado para Irwin Winkler em Tempo de Recomeçar (Life as a House, 2001) e ali, um dramalhão que atua junto a Kevin Kline, e sua atuação não deixa devendo. Nitidamente teve um acompanhamento do diretor que tirou uma excelente atuação do ator. Após alguns filmes feitos nesse período de pré-episódio III e mesmo depois, poucos filmes ganharam destaque e novamente vemos uma atuação extraída do ator em que não compromete. A Vida Por um Fio (Awake, 2007), com o Joby Harold, roteirista estreante na direção conseguiu relevância com seu filme thriller. Pouco depois veio a segunda maior obra depois de Star Wars na carreira do ator, Jumper (Jumper, 2008), de Doug Liman, teve até Samuel L. Jackson antagonizando seu personagem. Liman, famoso por dirigir e produzir a saga de Bourne, já tinha um excelente traquejo para filmes de ação, e se alguns costumam dizer que não se julga atores por atuação em filmes de ação, vai notar mais uma vez essa diferença abismal nas atuações.
Finalizo esta valorização considerando que o leitor assista ao Outcast na qual Cristensem novamente encarna um cavaleiro, desta vez medieval, porém com muito mais imersão na atuação causando essa diferença citada!
Saber das fragilidades de Lucas na direção não reduz a importância deste como criador, ao mesmo tempo que é importante analisar um diretor que ficou anos sem dirigir, conseguir conciliar sua direção de atores, sua direção de tecnologia inovadora e ter assim um parâmetro mais honesto de como foi importante retornar e acordar mais gerações para um amor pleno para saga.
E lembremos, na trilogia clássica houve a primeira onda de fãs. Quando a trilogia clássica foi remasterizada, uma segunda geração de fãs foi contaminada e, assim, as prequelas surgem para uma revolução na maneira de se fazer cinema e se trabalhar o fluxo da produção para pós produção e chegou até ao método digital da exibição e sua distribuição. Por último, uma nova geração surge. A geração do Star Wars com etiqueta Disney. Mais uma nova geração chega e qual o seu papel como fã de Star Wars? Ajudar a fortalecer o fandom onde dentro deste universo exista um grande fluxo de troca de informações do antigo universo expandido, usando métodos comparativos para estudar o novo universo e mercado (afinal, mercado é tendência) e utopicamente todos aprendam e tenham vontade de gostar? Ou seria um processo de exclusão em detrimento à um gosto pessoal que as vezes nada diz ou transmite ao próximo?
Lembrem-se, muitos enxergam obras somando-as ao seu repertório e solidificam sua memória afetiva como quem lembra do seu primeiro amor ou envolvimento. Seria justo uma postura absolutista e reducionista à uma obra que trouxe vários fãs com vínculos fortes ligados à própria vida? Nosso papel em grupos de debate seria o de separar em vez de unir e compartilhar?
Teríamos muito mais a ganhar ao assumir a verdade quando não sabemos, pois com certeza o resultado final na humildade de não saber, é o companheirismo de possíveis enciclopédias vivas que puderam acumular conhecimento, melhor do que tê-los do lado oposto.
Acima de tudo, o que a força nos pede é que possamos somar, jamais dividir ou subtrair nesse campo de conhecimento
E de maneira curta e grossa, o que aprendi em um moto clube, embora grosseiro, faz todo sentido quando compreendido: Ou soma, ou some!