Resenha | Star Wars: Uma Nova Esperança
“O Cinema se resume a antes e depois de Star Wars”.
Essa frase é dita por muitos cinéfilos e especialistas do mundo inteiro, e de certa forma é o que torna irrelevante lembrá-los dos nomes dos incontáveis autores dessa citação. Nada mais do que uma constatação óbvia, e sem o menor exagero.
Basta conversar com qualquer amante da sétima arte e terão essas provas.
Bem, também seria necessário um grau de entendimento para entender as façanhas dessa obra cinematográfica e que pôs a saga espacial no topo da vanguarda em 1977, ano em que o filme foi lançado. George Lucas já fazia parte de uma geração promissora e de grande talento de cineastas, que iam de Steven Spielberg (Tubarão; Contatos Imediatos do 3º grau) a Martin Scorsese (Taxi Driver; Touro Indomável) .
Porém, o que seria menos incrível é que não aprendêssemos a nos apaixonar por Star Wars admirando o filme como entretenimento apenas sem saber dos percalços que George Lucas, criador da maior franquia da história do cinema, passou para criá-la e torná-la real no imaginário coletivo de milhares de fãs. Suas ideias revolucionárias mudariam a forma de nós presenciarmos o cinema em sua totalidade a partir do momento em que foi criado o universo de Star Wars. Não seria mais visto como um mero filme. Mas como um evento! Star Wars definiria ao lado de “Tubarão” (1975) o que seria o cinema para as massas e o alcance imediato em proporções pop gigantescas jamais vistas.
Foi o terceiro filme de sua carreira e o colocou como o Midas do cinema arrasa-quarteirão, a partir da década de 80. Lucas dividiria a alcunha de ser diretor, artista e roteirista com suas novas funções. Pois anos depois se tornaria manager de suas outras criações e que moldariam a indústria do cinema.
Com o avanço das técnicas criadas durante a produção de Star Wars, Lucas criou várias empresas. Sendo a primeira e a mais conhecida: A ILM (Industrial Light & Magic). Os efeitos especiais de Star Wars mudaram a percepção do mundo para as artes visuais, tanto que a Academia de Ciências e Artes Cinematográficas mudou e redefiniu categorias depois do lançamento de sua “ópera espacial”.
Além dela, Lucas gerenciou e ramificou outras empresas, como a Skywalker Sound, Lucasfilm e a Lucasarts, entre suas principais crias. Isso custou tempo e uma demanda que afetou totalmente sua vida e sua carreira desde então; e principalmente sua empatia como artista mixada à sua visão de empresário. Mas isso é um outro assunto…
Porém, vamos falar do filme agora.
“Star Wars: Uma Nova Esperança” é o capítulo IV de uma saga planejada em 9 partes. Alguns fãs teorizaram até 12. No entanto Lucas, visionário como era, percebeu que seria mais interessante começar a saga pelo meio. Ele tinha em mente que se o filme fizesse sucesso ele poderia continuar essa história. E tinha razão. Ele sabia que o público não só daquela época, mas toda uma geração que viria depois estava aberta a ter novas sensações no cinema. E fora das salas também.
O filme é único e se tornou um clássico instantâneo. Normalmente, o tempo reforça a aura dos grandes filmes e os mais críticos acabam tendo uma releitura diferente do que aconteceu depois. Mas com Uma Nova Esperança (ANH – sigla em inglês ) não foi necessário esperar por isso. O filme tem talvez as melhores interpretações de toda saga. Apesar dos efeitos especiais serem avançados para sua época, o filme se encostou mesmo foi na história e nos personagens. Filme redondo. Com começo, meio e fim. E, é claro, uma trilha sonora inesquecível feita por John Williams. Outro ícone do cinema.
Os personagens estão todos lá: O herói idealista, a princesa mandona, os robôs encrenqueiros, o pirata espacial e o mentor sábio. Uma fórmula vencedora que foi criada direto da fonte de uma de suas maiores influências como diretor: Joseph Campbell (escritor, antropólogo e filósofo especializado em Mitologia ). Independente do filme ser uma fantasia espacial, cada personagem representava um arquétipo da sociedade e com uma natureza diferente do seu comportamento; e todos com uma historia escondida por trás também. Vemos isso em todos os personagens!
Luke Skywalker: O fazendeiro que queria se tornar um piloto mas tem seu destino modificado por “forças além das suas”. Acaba se tornando um Jedi a curto prazo (não é mesmo?). Han Solo: O contrabandista com índole boa, mas com má fama na galáxia. Leia Organa: A princesa que não tinha nada de princesa! Há também o ancião que esconde o passado da família, tem fama de maluco mas era um Cavaleiro Jedi fod**! E essencialmente tudo isso passa pelo maior vilão que o cinema já viu e que interliga todos esses fatos: Lord Vader.
A história da saga tem como pano de fundo a redenção desse personagem. Ele começa sendo a encarnação do mal, e no “final” da saga de George Lucas (Episódio VI), há a descoberta de que há mais para ser contado, além de um final triste. Essa fórmula é usada em todos os personagens da saga! Cenas que se repetirão novamente nos novos protagonistas que estarão no novo filme a ser lançado em dezembro. Usando a “técnica de Campbell”, perceberão que não há nenhum “segredo” no modelo como é contada essa história.
Star Wars tem uma pegada dramática e um pouco grandiloquente também. Como Lucas adere todo e qualquer forma de escola mitológica, e se tornou um estudioso no assunto, foi inserido na obra um toque de tragédia grega no contexto do filme também. Com grandes reviravoltas; e o contrário da interferência divina comumente vista nas obras gregas, vemos Lucas criar um conceito novo e quase tão divino quanto: A Força.
Um dos mais famosos personagens da saga explica: “A Força é um campo místico de energia que envolve toda galaxia”. E só os ‘escolhidos’ teriam o dom para usá-la para o bem, ou para o mal. É bem explicado e ao mesmo tempo não é. E isso é ótimo para o mistério e o misticismo que envolve o filme.
A frase acima foi imortalizada por Sir Alec Guiness, que interpreta o Mestre Jedi Obi-Wan Kenobi. Que só precisou de algumas cenas, e um filme, para ter talvez a interpretação mais emblemática de toda saga.
O filme revelou o talento de atores como Harrison Ford e Mark Hamill (menos afortunado que seu colega durante a carreira). E se hoje Hollywood se encontra na “era das franquias”, isso se deve a criatividade e ousadia de Lucas. Hoje, sua obra se encontra em outras mãos. A nova detentora (Disney) tem talvez mais bala na agulha do que Lucas. Emendando novos lançamentos, e uma novidade: A saga terá filmes baseado nos personagens criados na saga original.
Mas sabemos que não está envolvido em nenhum projeto. Contudo , esperamos ter o “velho” Lucas ainda de volta para mais um filme. Eu pessoalmente desejo isso. Mas quero aquele “velho” idealista. O artista que mudou a forma de ver cinema e criou um estilo de vida para mim e para muitos. Se isso não for pedir muito.
Também não posso esquecer: Obrigado Lucas!
Por Dark Marlowe