A Disney e seu universo Star Wars
Outubro de 2012 foi um mês marcante para os fãs de Star Wars. Afinal, a Disney tinha acabado de anunciar a compra da Lucasfilm, a empresa criada por George Lucas, e confirmado uma nova trilogia da saga, com a possibilidade de serem produzidos filmes derivados da franquia.
Entretanto, uma grande parte dos fãs mais cuidadosos não ficaram muito animados com esse anúncio. Aí foi motivo para ouvirmos alguns destes medos que chegavam a ser paranoicos: “Vão fazer um musical!”, “Vão deixar a franquia infantil!” ou “Leia e Padmé vão entrar no rol das princesas Disney – esses pensamentos eram ecoados na cabeça dessa parte do fandom. O cancelamento da série The Clone Wars e o reboot do Universo Expandido foram mais motivos de preocupação para os fãs que tanto se sentem donos da saga.
Mas e aí, o que é esse novo universo Star Wars?
A Disney/Lucasfilm quer criar algo totalmente novo e diferente do que já foi visto e feito pelo “Criador” George Lucas e outros autores no antigo cânone. Como disse Pablo Hidalgo, o supervisor do cânone, nunca mais ouviremos ou leremos a palavra retcon – artifício muito utilizado no antigo UE, que serve para corrigir furos e erros de continuidade – e também que a Lucasfilm está sendo revolucionária com esse novo universo que está sendo criado.
De acordo com informações oficiais lançadas sobre o vindouro O Despertar da Força, serão vistas coisas totalmente novas nos próximos anos. A exemplo, como o próprio JJ Abrams confirmou, Kylo Ren não será um Sith e seu mestre Snoke, também não. Além disso, segundo rumores, na primeira versão da história de O Despertar da Força, os personagens clássicos teriam pouquíssimo tempo de tela. Isso foi mudado quando JJ Abrams assumiu o roteiro ao lado de Lawrence Kasdan, roteirista de Império Contra-ataca, Retorno de Jedi e do futuro filme do Han Solo. Uma mistura simples de velho com o novo para não assustar o fã clássico e atrair um novo público.
Então vamos tentar nos colocar no papel da Disney como gestora para ver se entendemos?
Star Wars mexeu com duas gerações próximas: a que saía dos anos 70 e a que crescia nos anos 80. Estes participaram in locco da febre de se “descobrir uma saga cinematográfica”. Aí vieram as remasterizações elaboradas por Lucas e um propósito de contar como surgiu Vader. De novo o criador pegou saída de uma década e início de outra. E quer queiram ou não, final de milênio com uma saga de aventura no espaço é algo que vem a calhar. Começa então mais uma maratona de uma nova trilogia a ser contada. Com um gap de 20 anos, as chamadas prequelas foram feitas com intervalo menor ao que ocorreu na antiga trilogia e ora agrada ora provoca irritabilidade ao fã classicista. Mas sabemos, o fã é exigente ao extremo de ser chamado de chato. Aqui, preferimos que seja “exigente”.
Todos universos criados por estas duas trilogias dialogavam entre si e envolviam mais peças da cultura transmidiática: livros, histórias em quadrinhos, games entre outras peças midiáticas que servia para cercar ao fã mais arcaico possível e envolvê-lo com novos personagens e aventuras. Embora o diretor ainda estivesse com suas falhas de direção por manter tanto o foco na tecnologia e não no elenco, as prequelas foram aceitas e assimiladas tendo Jar Jar Binks ou não.
Missão Cumprida. Cada trilogia pega final de uma década e início de outra, 2 gerações com um intervalo de 20 anos que também foram cooptados com o relançamento da remasterização. Nada mal para uma saga cinematográfica de apenas 6 filmes canônicos.
Aí chega a Disney empresa que, mesmo com os medos dos mais conservadores, tem fama de saber vender, trabalhar e difundir culturas de massa por suas obras atuais com o tempo de modernização: no auge das conquistas femininas de escalada social emplacou as heroínas Mulan e Pocahontas, quando os musicais estavam desacreditados, lançou uma ironia de si mesmo com Encantada e transformou um brinquedo de seu parque numa saga de quebra de paradigmas, ou seja, Piratas do Caribe.
Mas voltemos ao seu maior investimento: a franquia Star Wars que todos esperavam a reutilização de alguns mundos e personagens e quem sabe, novas pontes de diálogo.
Pouco depois de comprar, ficou claro: praticamente TUDO do antigo UE vai virar LEGENDS.
Star Wars vai ser rebootado em seus processos transmidiáticos e serão feitos da melhor maneira, pois sabemos que cada mídia puxava sardinha pra si e desta vez a regra é clara: não haverá desencontro de informações.
Sejamos francos: esse é um belo ponto positivo.
Mas existe uma zona neutra acontecendo nas entrelinhas que os fãs notaram e pode vir a ser um excelente papo de bar após a projeção de Ep. VII para se debater e tentar entender: As coisas estão mudando e novas criações estão surgindo. Até aí normal, nas prequelas isso já ocorria.
Não, pera…
Será que ninguém notou que tem algo de estranho rolando nessa trilogia nova? Primeiro que surgiram três protagonistas totalmente coniventes com os dedos na ferida da sociedade e que deu o que falar em inúmeras pages de Star Wars: Uma mulher, um negro e um piloto latino. Mulher é o famoso girl power era que vivemos, o ator negro para compor uma milícia que usa de referências claras aos soldados do terceiro Reich e o piloto, bem, este tá tudo certo, fiquem tranquilos.
E aquelas imagens que vazaram de deserto? Quem olhou falou: TATOOINE!
Não, chama-se Jakku.
Rolaram piadas, ironias, mas o nome é este e este planeta não existia! Uma criação inovadora.
Tem mais? Tem sim. Os nomes dos personagens. Lembro que criaram até sites que transformavam seu nome num nome do universo Star Wars como Sorac Lon Buupa, Sterpid Lof Vandac, ou coisas do gênero.
Mas Disney veio com Snoke, Captain Phasma, Hux, entre outros. Caracas, mas isso não lembra Star Wars. É amiguinho, não lembra mesmo.
Tá e nosso vilão? é Darth o quê? Não é Darth, esqueça isso. Existe uma nova ordem chamada de “Cavaleiros de Ren”.
Jura? Como o Império permitiu isso???? Oras, simples, o Império não manda mais aqui. Estamos agora com uns faxistas novos no pedaço, a Primeira Ordem.
Minha nossa! Ordem? e ainda por cima Primeira? Quanta pretensão hein? Tá, entendi, as coisas estão mudando.
E o que falar dos aliens? Até agora, não vimos um alien sequer que tanto conhecemos, a não ser pelo nosso amado Chewbacca, praticamente tudo é novo! Aí voltamos em algo que quero chacoalhar vocês e dizer: por que cargas d’água estão evitando usar nomes, mundos, criaturas que vieram do pai da criança?
Será que existe um acordo secreto que Lucas malandrão fez do tipo “a cada vez que citarem Tattooine, Vader e qualquer outra palavra do meu mundo, cai din din na conta do titio aqui”? Aí a Disney, que mesmo sendo compradora de tudo pensa: é meu, mas não vamos perder trocos, ou mesmo perder tempo criando links com aquilo que dissemos ser passado.
Que se crie tudo novo, vamos inovar para que todos conheçam a “Era Disney”, pois volto a dizer: impossível ninguém ter estranhado que muita coisa mudou e está mudando nestes universos.
Aí vem o medo de todos nós que somos fãs de Star Wars: Se a prequela que está grudada com a clássica já cria uma ninhada de haters que reclamam de tudo e todos, e esse mundo novo da Disney, que apesar de ter ali os personagens classicos Han Solo, Léia, Luke e os droids, nos traz novos “protagonistas”, é bom que a Disney saiba e pesquise caminhos de agradar uma geração de exigentes sem perdê-los nesta jornada de criar novos fãs desta geração.
Na minha opinião humilde, sorte dos fãs que surgiram na prequela que podem olhar pro passado, saberem de seu presente e sentir nuances de seu futuro. E se estes forem sábios, poderão suavizar o impacto do novo sem se sentirem incomodados de novidades.
O que sobra aos fãs do clássico acreditar numa nova esperança…
Crônica criada a partir de uma conversa informal entre os membros do Sociedade Jedi