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Artigo | Crônicas do FerLando: Shadows of the Empire

Assim como muitos que devem estar lendo este texto, desde moleque eu era fissurado em vídeo games. Minha história “gamística” começa nos primórdios, com o saudoso Atari 2600 e seus inúmeros títulos espaciais (e, parando para pensar, talvez o 2600 seja realmente o campeão em títulos  com a temática). E o gosto pela fronteira final começou em meio a tantos cartuchos pretos e cinzas e veio crescendo quando, em 1997, descobri um filme, um tal de Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, que havia sido (re)lançado nos cinemas. Foi amor a primeira vista e meu primeiro pensamento foi: “Será que tem jogo desse filme?”. Naquela época eu possuía um Nintendo 64 e com recursos financeiros escassos era detentor apenas de um Super Mario 64 e The Legend of Zelda: Ocarina of Time. E naquele momento precisava desesperadamente aumentar a coleção com um jogo daquele tal de Star Wars e eis então que descobri um jogo chamado Shadows of the Empire e fiz por onde para conquistá-lo (na lição de hoje, crianças, aprendemos que estudar e tirar boas notas trazem boas recompensas no final do ano). E então que descobri um dos meus jogos favoritos até hoje no universo criado por George Lucas.

Um pouco da história de Star Wars se faz necessária aqui para poder explicar o que foi o fenômeno Shadows of the Empire (ou como irei chamar a partir desde momento, SotE). Em meados de 1995 George Lucas já tinha em mente o retorno da franquia Star Wars aos cinemas, mas ele precisava de um termômetro para saber se os fãs ainda estavam lá fora, espalhados pelo mundo aguardando novidades da franquia (mesmo após o lançamento da obra Herdeiros do Império, de Timothy Zahn). Foi então que a ideia de SotE nasceu, e tendo como base um livro, todo o material de marketing foi produzido (é como se houvesse um filme, mas sem filme). Além do livro, foram feitos action figures, card game, história em quadrinhos, guia oficial de referências, dicionário visual, Micro Machines, guia de planetas, áudio livro, miniaturas de naves, CD com trilha sonora e, claro, um jogo eletrônico para PC e Nintendo 64. De certa forma, por conta do absoluto sucesso de SotE, em 1997 tivemos o relançamento da trilogia clássica e em 1999 o pontapé da nova trilogia.

A história do livro conta fatos ocorridos entre os Episódios V e VI onde Luke, Leia, Lando, Chewie, Wedge e o Rogue Squadron partem numa jornada para resgatar Han Solo das mãos de Boba Fett. Eles contam com a ajuda de Dash Rendar, um dos melhores pilotos da galáxia. Dash descobre onde está Fett e leva o grupo de heróis até lá. Boba Fett, por sua vez, tem que lutar contra outros caçadores de recompensas para continuar com sua “mercadoria”. Enquanto isso o Imperador ordena a Darth Vader que consiga capturar Luke, enquanto Prícipe Xizor, um vilão que vive nas sombras do Império, através da organização Black Sun deseja tomar o lugar de Vader ao lado do Imperador e parte para a mesma missão. Assim, Luke tem que escapar das duas mais perigosas organizações da galáxia. Enquanto isso a aliança rebelde, por meio dos Bothans,  consegue roubar os planos secretos da segunda Estrela da Morte, uma estação ainda mais poderosa que a primeira. O desenrolar dos acontecimentos levam a Princesa Leia até Xizor e na tentativa de salvá-la, Luke se vê frente a frente com ele. Darth Vader se vê obrigado a fazer algo para impedir Xizor e assim proteger o filho de Anakin Skywalker.

E, assim como o livro, o jogo narra exatamente estes fatos, contudo sob o ponto de vista de Dash Rendar. Ou seja, o personagem criado no livro e serve como um “tapa buraco” (visto que Han Solo está congelado em carbonita e não participa da história) no jogo se transforma no grande protagonista. Ao longo de dez fases nos aventuramos em cenários conhecidos como a Batalha de Hoth, a base Echo e as vielas de Mos Eisley – este montado em uma speeder bike – até níveis que até aquele ano em que o jogo foi lançado não eram conhecidos nos filmes, como Coruscant. Lembro-me da sensação da primeira vez em que coloquei as mãos no jogo e comecei a jogar. Foi emocionante escutar o tema principal e o texto subindo, mas naquela época meu inglês se resumia a palavras simples e verbos primários. Posso afirmar que SotE foi um dos grandes motivadores nos meus estudos da língua materna da terra do Tio Sam e jogava sempre com um dicionário ao meu lado.

O jogo é dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo tem início na clássica batalha de Hoth, a bordo da Snowspeeder. O objetivo era simples, destruir a onda de walkers que estão vindo e proteger a base Echo a qualquer custo. E após a batalha, Dash retorna à base Echo e precisa chegar até a sua nave, mas no caminho encontra grandes cânions e no final um AT-ST como chefe de fase. Seguindo, pegamos nossa nave e voamos direto para o famoso cinturão de asteróides que vimos Han, Luke, Leia, Chewie e os droids se aventurando em O Império Contra-ataca. A aventura então entra no segundo capítulo, em busca de Boba Fett e Han Solo congelado. No espaço, após dar conta de alguns Tie-Fighters, vamos direto para Ord Mantell, o grande “planeta-ferro-velho” da galáxia. A bordo de um trem, se inicia uma busca do droid caçador de recompensas IG-88, a fim de recuperar o paradeiro de Boba Fett e assim, após uma boa troca de tiros acabamos nos desfiladeiros do espaço-porto Gall. Essa fase é uma das mais clássicas para este nobre cidadão que vos escreve nos vídeo games, uma vez que ganhamos o Jetpack e, assim como Boba Fett nos filmes, podemos voar por algum tempo no ar. Após uma das melhores sequências de chefes dos games (se eu contar perde a graça, então termine de ler e vá jogar!) o jogo inicia o capítulo três, onde Dash deixa de caçar Han e passa a proteger Luke do Império e da terrível organização Black Sun. Neste capítulo mais uma vez temos uma fase memorável, em Mos Eisley, onde Dash persegue mercenários montado numa Speederbike e nos faz sentir a emoção que tivemos ao assistir a perseguição de bikers em Endor, no Retorno de Jedi.  Para não me alongar mais to que já me alonguei neste parágrafo, não vou contar o capítulo final do jogo, mas posso adiantar que o nível final é de tirar o fôlego, numa batalha espacial em que você como Dash, a bordo da Outrider, precisa destruir a base espacial do Príncipe Xizor que, ao mesmo momento, está numa batalha contra um destróier estelar do império!

Pois é amigos, apesar do jogo já ter praticamente 20 anos (a serem completados em 3 de Novembro de 2016, data do lançamento para N64), SotE ainda é um jogo que emociona e apesar dos gráficos datados ainda conta com fases e mecânicas diferenciadas em um mesmo jogo, algo que praticamente nenhum jogo de Star Wars fez até hoje – e tudo isso sem precisar de um sabre de luz! Ainda falando sobre mecânicas, o jogo póssuía quatro níveis de dificuldade e em cada fase era possível coletar “challenge points” e conseguindo todos era desbloqueado um conteúdo adicional naquele nível de dificuldade (ou seja, para cada nível de dificuldade era preciso coletar os “challenge points” escondidos de novo pra desbloquear apenas naquele nível de dificuldade).

Como eu disse lá no início desse texto, minha coleção de jogos no Nintendo 64 era pequena e SotE foi meu terceiro jogo (de um total de apenas 5, o restante me contentei com locadoras – #saudadesProGames </3) e tive muito tempo para dissecá-lo e aproveitar cada pixel que aquele cartucho tinha a oferecer. E quando pensei que já havia visto de tudo, em 1999 eu descobri SotE para PC (que foi lançado em 1997), onde ao invés das cenas entre as fases serem imagens estáticas com textos (típico de jogos para N64 devido ao cartucho com pouca memória), a versão para PC possuía animações em computação gráfica e diálogos com vozes, e jogar tudo de novo se tornou melhor ainda!

Sem dúvidas SotE está no meu top jogos favoritos! Não só porque é um título da saga criada por George Lucas, mas por ter marcado minha infância e adolescência e por ter me proporcionado momentos que consigo recordar até hoje e pude compartilhar neste texto com vocês. Para aqueles que já jogaram, espero que tenham experimentado o jogo da mesma forma que eu pude e para aqueles que não jogaram até hoje, deem uma chance e conheçam um pouco do rico e vasto universo Legends de Star Wars. Afinal, Dash Rendar, príncipe Xizor e todos os personagens de Shadows of the Empire são verdadeiras Lendas!

Por fim deixo dois vídeos como bônus para os bravos e nobres leitores que chegaram até aqui. O primeiro vídeo é um trailer do fanfilm brasileiro, dirigido por Milton Soares Junior, feito inteiramente com action figures, o Sombras do Império e que por muito tempo foi considerado o maior fanfilm da história! O segundo vídeo é uma compilação de todas as cenas do jogo para PC (áudio em inglês, sem legendas). Vale a pena conferir também, pois acaba servindo como um curta animado da história do filmelivro.