Episódio I - A Ameaça FantasmaResenha | FilmesResenhas

Resenha | Star Wars: A Ameaça Fantasma

Olá caros leitores, como o título do post sugere, vocês estão prestes a rever ‘A Ameaça Fantasma’ com um olhar mais crítico, mas não se preocupem pois tentaremos ser o mais imparcial possível para mostrar o que o filme trouxe de bom e em quais aspectos o mesmo deixou a desejar. Antes de começarmos, peço que mantenha sua mente aberta e esqueça por alguns momentos todo e qualquer preconceito que você talvez tenha com este filme, estamos combinados? Ótimo… vamos começar então.

O ano era 1999 e já haviam se passado mais de 15 anos desde que o último filme, da atualmente chamada Trilogia Clássica, (se preferirem: A Trilogia de Anakin para a ultima trilogia e “A Trilogia de Vader” para a clássica Trilogia) fora exibido nos cinemas. Era de se esperar que o anúncio de um novo filme significasse uma continuação direta dos acontecimentos de O Retorno de Jedi certo? … ERRADO! A aposta que foi realizada consistia em voltar na linha de tempo da franquia para contar a história de Anakin Skywalker antes mesmo do cavaleiro ser um honrado e destemido Jedi como também mostrar a situação da Galáxia antes de existência do temido Império Galático. Até então a ideia soava um tanto interessante para muitos fãs, contudo ainda havia quem duvidasse de que essa fórmula poderia dar certo.

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Essa certeza surgiu quando no lançamento da remasterização da Trilogia de Vader continha alguns extras e tanto nestes extras como nas entrevistas, George Lucas já assumia a fixa ideia de voltar a dirigir filmes, e o melhor, dirigir a saga de Star Wars novamente.

Depois de um tempo a sinopse do filme fora revelada:

Quando a maquiavélica Federação Comercial planeja invadir o pacífico planeta Naboo, o guerreiro Jedi Qui-Gon Jinn e seu aprendiz Obi-Wan Kenobi embarcam em uma aventura para tentar salvar o planeta. Viajam com eles a jovem Rainha Amidala, que é visada pela Federação pois querem forçá-la a assinar um tratado político. Eles têm de viajar para os distantes planetas Tatooine e Coruscant em uma desesperada tentativa de salvar o mundo de Darth Sidious, o demoníaco líder da Federação. Durante a viagem, Qui-Gon Jinn conhece um garoto de nove anos e deseja treiná-lo para ser tornar um Jedi, pois o menino tem todas as qualidades para isto. Mas o tempo revelará que nem sempre as coisas são o que aparentam. – Adaptado de Adoro Cinema

Era final de uma década e ao mesmo tempo virada de milênio e nada mais justo que Lucas criar uma nova geração com uma franquia que a cada dia que passa se aproxima de ganhar status de folclore mundial. Tudo isso permeado com a evolução das técnicas de captura de câmera que estava abandonando a bitola de celuloide para abraçar a tecnologia digital de captura, a Panavision estaria usando o primeiro filme para testar a descoberta digital que facilitaria muito o fluxo de trabalho para que logo após a captura em dias de produção, já se destinasse aos departamentos de edição e pós produção.

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Todos os fatores pareciam a favor de Lucas a não ser dois grandes empecilhos: o hiato do diretor há tanto tempo sem dirigir mais o fato de como se contextualizar um mundo, criaturas e personagens para que o fã realmente conhecesse melhor o significado das frases do teaser “toda saga tem um início”.

A responsabilidade de se iniciar uma saga era muito grande, pois os começos sempre são mal compreendidos, mesmo das teorias Darwinianas como se lê na Bíblia:

No princípio criou Deus o céu e a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
E disse Deus: Haja luz; e houve luz.
Gênesis 1:1-3

Nota-se que até em Gênesis existe uma dificuldade do ponto de partida como uma compreensão plena, e o mesmo acontece com primeiros filmes de sagas. O criador tem opção de explicar detalhadamente como foi o caso de Tolkien que em “A Sociedade do Anel” explicava inclusive a característica de vegetação local (feita brilhantemente pelas mãos de Peter Jackson) como pode omitir e nos jogar em meio aos incidentes para que com os fatos, nós montemos o painel narrativo da “CONTEXTUALIZAÇÃO”, visto em filmes antigos (Alien o 8 passageiro de Ridley Scott) ou recentes (Círculo de Fogo de Guilhermo Del Toro).

Ao mesmo tempo, a saga responde a um segmento mercadológico onde tudo que for criado, tem obrigação de virar produto, produtos estes que vendem tanto ou mais que os próprios filmes. Aí mora o escorrego que gera uma geração de pessoas que torcem o nariz para algumas criaturas e situações presentes no filme.

Lucas é propício a repetições porque seu background lúdico (Joseph Campbell) trata as mitologias com repetições, e tal qual foi em sua primeira formula mágica do tom infantil e irônico de dois androides “engraçados” que dialogavam com as crianças assim como uma de suas inspirações, “A Fortaleza Escondida”(1958) de Akira Kurosawa já tinham dois personagens atrapalhados que mesmo num filme sério, atraía a atenção das crianças.

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A ideia não vingou muito bem e o personagem Jar Jar Binks se tornou o ralo que escoa toda credibilidade do filme por conta de uma birra que se arrasta há anos.

Mas vamos ao filme propriamente dito, afinal, Binks é apenas 5% do filme e em nada ele atrapalha a estrutura narrativa que o filme tem. Binks é mercado, é o elo que as crianças seriam laçadas a se identificar com uma figura patética, tal qual aconteceu com o C-3PO décadas atrás. O mercado de se vender a figura caricata em meio a um cenário tão complexo e politizado como foi o primeiro capítulo.

Há quem diga que o filme é ruim, roteiro fraco e outras trocentas frases que nunca me contentei em aceitar. Aos que diziam: o roteiro é fraco eu analisei ao filme outras vezes e posso dizer com propriedade, a estrutura está lá sem qualquer tipo de erro ou deslize, o timing das ações ocorrem naturalmente em seus 120 minutos me mostrando como é o mundo, as políticas e os aliens daquele tempo.

Política? Aaaaah! Essa política tão complexa pra um filme infantil. Eu sou capaz de dizer que se os haters odeiam o filme por 5% de presença de Binks, essa Federação de Comércio fechar o planeta Naboo onde ninguém entra e ninguém sai é no mínimo uma jogada de mestre pra contextualização política e onde se encaixavam os cavaleiros Jedi, no cargo de chanceleres da negociação.

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Ai surge Binks. E esqueço Binks e sua função de agradar crianças e vender brinquedo, noto que Gungans tem seu território periférico ao fundo do mar e não vivem em harmonia com humanos que se julgam “sabidos demais”. O colonizador e o indígena.

Recuperam a Rainha intacta e fogem a base de tiros: ganhamos nessa sequencia o R2-D2, o planeta deserto comandado por gangsters Hutts, apresenta-se um aprendiz de Sith e ainda tenho que engolir que em seus 35% de filme seja um roteiro fraco? Mas vamos lá.

Chegamos a mais uma situação política, um lugar onde os créditos republicanos não tem valor e os forasteiros são ajudados por um “escravo”. Descobrem o submundo das apostas, notam que corridas mortais de pods é o que movimenta o dinheiro local e nessa conhecemos o C-3PO, Greedo, um lado trapaceiro (manipulação dos dados, já que o Truque Mental não funcionou) do Jedi menos dogmático da Ordem e a descoberta científica do sangue do escravo.

O plot do roteiro até então julgado como fraco e infantil tem pelo menos seu segundo ponto de virada em menos da metade do filme e sem perder ritmo na montagem. A marca da metade do filme é selada pelo primeiro combate de sabres de luz sob a luz do dia, algo inédito e acontece em míseros 3 ou 4 minutos que na minha memória fixou pra sempre.

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Vamos para a segunda metade do filme, conhecemos o planeta burocrático Coruscant, apresenta-se o guri para uma horda de velhacos desconfiados e arrogantes que o julgam velho para o cargo de Jedi e improvável para a profecia e tome mais um ato arredio do melhor Jedi da história batendo de frente com o Conselho todo, mas somos interrompidos por mais política, o tal Valorum é derrubado de forma que lá na história ninguém entendeu a jogada política, mas nós, espectadores, já havíamos entendido a jogada de Palpatine e esse truque de roteiro é uma das formas mais belas de narrar: o espectador onisciente.

Mas o roteiro “ruim” não para por aí, a quadrilha composta por 2 jedi subversivos, uma dublê de Rainha, um androide, e um personagem marginalizado com jeito de jamaicano resolvem voltar ao planeta natal com uma missão suicida, se juntam aos marginais da periferia submersa do planeta e voltam ao castelo pra retomar ele.

Aí o roteiro ruim divide a narrativa em quatro segmentos: os bravos Jedi lutando com um vilão de sabre duplo sob uma das melhores trilhas sonoras de John Williams, um guri que é bom piloto indo parar na batalha espacial e a tal dublê que confessa ser uma rainha que resolve os problemas pessoalmente indo retomar o castelo de sua posse.

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Ah sim! Claro, o personagem mais amado liderando uma batalha campal que nos serve de entender o potencial Gungan que até então eram apenas anfíbios que andavam esquisitos.

Quatro segmentos que não deixam a peteca cair até seu desfecho. São poucos os filmes que separam a narrativa paralela e volta à conclusão sem deixar sentimento de que algo falta.

A sequência de luta de dois Jedi contra Sith carrega a emoção necessária para se sentir dentro de uma obra de Lucas: eram cenas de ação, sabres de luz se estalando e a trilha de John Williams ritmando a bela montagem que um filme de ação deveria conter. São saltos, plataformas, andares acima ou abaixo, cantos de bases militares que já havia nos intrigado em Bespin que nos trouxe num novo tipo de beco sem saída: escudos de energia que separam o mestre e o aprendiz numa luta contra um Sith. E se o cinema é um domínio de tempo, espaço e câmera, este final nos encurrala com um inimigo além: um descompasso que atrasa nosso herói tendo o “tempo a menos” que separam os personagens até que cada um encontre seu destino.

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Lucas, que é fã de simetrias, encerra a obra selando a paz entre espécies e raças do planeta em clima amistoso e muito semelhante com as cerimônias de cunho real e ainda nos mostra numa brincadeira descompromissada por que chama o filme de ameaça fantasma.

A semente foi lançada e o filme nos contextualiza bem o universo que vamos adentrar sem perder nenhum dos seus charmes que comoveu plateias setentistas: o tom faroeste futurístico e mais mistérios da força que nos seguraria ansiosos por mais 5 anos de espera de uma conclusão que sabíamos o resultado, mas não qual seria a viagem até ao que já conhecíamos.

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Aos que usam de olhos livres sem permitir que o preconceito sente-se junto como espectador para embarcar na jornada do herói, vai saber extrair muitos pontos relevantes e aprender que um filme tem muitos elementos precisos para uma boa aventura.

Por Ítalo Bandeira e Vebis Júnior